A fama dos grandes gourmets tem destas coisas. Todos nesta sociedade vivem do estatuto social e quando um restaurante o adquire, o seu "chef" torna-se em la creme de la creme. Pode-se nunca ter provado um prato seu. Pode ficar-se chocado com aquela batata por cozer misturada com um fio de alface. Mas nunca ninguém deixa de o vangloriar. Nesta viagem bem pouco gastronómica visitamos um chef que nos oferece uma dessas refeições chic. E que espera que lhe espetemos com três estrelas do Guia Michelin por isso.
Entrar em Where the Wilds Things Are é um exercicio de paciência, indulgência e tranquilidade. Tudo o contrário do que desfila ao olhar do mais timido espectador, escondido num lugar onde poucos vezes a sua cara de sono. O grito que abre a festa transforma-se no silência que termina o dia. Como uma discussão de miudos, tudo começa aos saltos e empurrões e acaba na exaustidão de quem sabe que já cumpriu o seu papel social. Um filme sobre uma birra juvenil era algo que só Spike Jonze poderia produzir. E fê-lo, com todo o seu talento de chef metódico e provocador. Desse género que o Mundo tanto gosta de louvar com categorizações nunca inferiores a "farol da cultura ocidental". Assim estamos nesta viagem como estavamos na mente de John Malkovich ou no meio dos pantanos da Florida. Jonze, especialista em videoclips - uma arte por si só - gosta de provocar. Mas até para isso é preciso saber como fazê-lo. E não basta com escolher uma boa trilha sonora e trabalhar uma fotografia deliciosa. É preciso montar as peças do puzzle.
Quem se lembra do livro original que inspirou o filme deverá certamente estar como aqueles miudos que procuram o Wally. Onde está aqui o Wally? Onde estão as semelhanças?
Da história divertida de um miudo que cria o seu próprio mundo imaginário, habitado por violentos mas divertidos monstros, entramos numa viagem de auto-glorificação (e auto-comiseração) de Max. O jovem Max gosta de ser o centro das atenções. Tem o complexo de irmão mais novo. Tem o complexo de filhos de pais divorciados. E como qualquer miudos traquinas tem o seu pequeno e particular mundo. Mas Max é filho desta sociedade e a ele tudo lhe é permitido. Entre gritos Max quer ser o rei da casa. E quando lhe negam a sua supremacia natural, foge. E perde-se até achar que se reencontrou. No meio de meia-duzia de figuras felpudas e monstruosas. Tão violentas e deprimidas quanto ele. O povo perfeito para reinar. Só que o seu reinado, que prometia igualar os feitos do Rei-Sol, transforma-se num autêntico desastre para a pequena comunidade. E Max é assim forçado a confrontar-se com a sua natureza. Esclarecidos? Venha a sobremesa.
Sob um delicioso e diminuto gomo de uma tangerina - outra sobremesa bem original do chef Spike - somos forçados a perceber que o cinema é algo bem mais profundo do que nos querem fazer crer. Eleger heróis pop, autores de génio e maestros da inovação é uma inevitabilidade do complexo de inferioridade que acompanha grande parte do público e criticos. Especialmente estes. Jonze está, instalado confortavelmente nessa galeria. Para todos esses, Where the Wild Things Are é uma obra-prima a ser estudada nos mais complexos mestrados de sociologia. E Max Records a verdadeira next best thing de Hollywood e arredores. E não se esuqeçam de catalogar as vozes de actores do estofo de James Gandolfini como captivantes até à medula. Está tudo lá! Está?
Estes são os mesmos que pagam a conta do restaurante com um sorriso e ligam imediatamente aos amigos, só para dizer onde jantaram. Mas nós aqui sabemos que uma sandes de queijo e fiambre é só uma sandes de queijo e fiambre. Mas muitas vezes reconforta mais a alma do que o prato vazio que querem transformar num festim. E Where the Wild Things Are é isso mesmo, um filme absolutamente vazio. Tal como o seu autor.
Classificação -
Realizador - Spike Jonze
Elenco - Max Records, Catherine Keener, Mark Ruffalo
Productora - Warner Bros.
Classificação - m/12
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