Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2008

Os 10 filmes de 2008

A essencia do cinema, seja como arte seja como indústria, é o resultado final de um labor que vai desde o primeiro rascunho do guião até ao último plano editado: o Filme. Em 2008 não vivemos propriamente um ano de grande colheita como já aconteceu no passado, mas mesmo assim ficam filmes que vão rapidamente tornar-se parte da história do cinema. Esta lista de dez titulos tenta resumir da melhor forma as dez principais obras que estreram nas salas portuguesas em 2008.

 

10

The Mist

 

Há poucos escritores com tanto sentido cinematográfico com Stephen King. Tem várias obras adaptadas ao grande ecrã, e a verdade, é que a maioria delas se tornam filmes apaixonantes. Ocorre exactamente o mesmo com este The Mist. O realizador é Frank Darabont, curiosamente o responsável de adaptar aquele que é hoje o livro de King com mais exito cinematográfico, The Shawshank Redemption. No elenco não há estrelas e no filme não abundam os efeitos especiais. Mas o que está sempre presente, é o medo. Há uma cena em The Bad and the Beautiful onde Kirk Douglas explica qual o truque essencial para provocar medo no cinema. E Darabont parece dominar bem a técnica. O filme descorre com uma fluidez admirável para os dias de hoje, e é de uma honestidade impressionante. Não se põe em bicos de pés mas também não se envergonha de ser um filme de género. E é um óptimo exemplo de excelencia cinematográfica.

 

9

El Orfanato

 

Se a nivel dos géneros mainstream (ou seja, drama e comédia) o cinema espanhol continua demasiado dependente da fama conseguida por Pedro Almodovar a verdade é que o cinema de terror espanhol está a viver uma época alta. O último exemplo vem da mão de um estreante, Juan Antonio Bayona, que assina em El Orfanato um fascinante retrato de desespero e obsessão com um traço fantástico demolidor. Seguindo um pouco a estética lançada por Alejandro Amenabar em The Others, neste filme também encontramos uma mulher como eixo central (parece que no cinema de terror elas funcionam melhor na invocação do desespero) de uma história com contornos bem reais. Um filho que desaparece, uma lenda negra que se converte em cruel realidade e um mundo paralelo que volta para assombrar os mais cépticos. Não é propriamente um filme para meter medo (mas consegue). É essencialmente um filme para tentar descifrar o imenso desconhecido que é o poder da mente humana.

 

8

007 Quantum of Solace

 

É impressionante como as coisas podem mudar de um momento para o outro. Estava à vista de todos que há anos que 007 definhava tristemente em filmes aborrecidos e sem nenhum interesse. A personagem vendia mas a ideia de excelencia era constantemente posta de lado. E de repente um volte face chamado Casino Royale demonstrou que aqueles que se rendiam a fenomenos como o de Jason Bourne, podiam ter em James Bond um equivalente bem mais interessante. A nova saga de 007 com Daniel Craig a dar forma a um agente rude, indisciplinado e mais masculino que nunca, é um dos achados dos últimos anos. A imagem de glamour de Brosnan já parece corar de vergonha quando ve Craig irromper pelo ecrã. Apesar de ser um filme com mais acção e menos narrativa que o antecessor, é impossivel ver Quantum of Solace e não pensar nele como parte de um diptico com Casino Royale. Não chega ao mesmo nivel mas mesmo assim é um exercicio cinematográfico apaixonante que prova que o cinema de acção está bem vivo e recomenda-se.

 

7

Entre Les Murs

 

Triunfou em Cannes e conseguiu assim chamar a atenção do Mundo. Mas mais do que o glamour de ser um filme multi-premiado, Entre Les Murs é um dos mais apaixonantes exercicios de reflexão sobre a sociedade contemporanea. A heterogeneidade dos actores amadores de Laurent Cantet é genuina e um espelho que reflecte bem o quão dividida está a sociedade de hoje. E na dificuldade de encontrar um ponto de convergencia no dialogo, o cineasta cria um dinamismo apaixonante sobre a forma de uma espécie de torre de Babel juvenil onde todos falam e poucos se parecem entender verdadeiramente. É entre os muros da escola que se establecem as premissas da vida que decorre para lá dos muros. E mais do que um centro de cobais do futuro, a escola, hoje, mais do que nunca, é a chave de uma sociedade ainda à procura de um rumo.

 

6

Sweeney Todd

 

Tim Burton volta ao ataque com mais um dos seus fabulosos delirios. Um cineasta que não tem equivalente nas últimas gerações, um George Meliés contemporaneo, Burton é capaz de arrancar dos palcos da Broadway um musical com o peso de Sweeney Todd e transforma-lo num filme inteligente e extremamente sóbrio, apesar de todo o exagero que o rodeia. Um trabalho de precisão metódica, tanto na concepção do espaço e plano como na direcção da troupe de artistas. E onde outros "autores" acreditam que a forma é suficiente, Burton acredita que o miolo do filme está na forma como os seus interpretes tornam credivel o seu "Mundo". Daí que a colaboração inevitável com Johnny Depp seja, uma vez mais, a pedra angular de um filme que pode não possuir o nivel de genialidade das suas grandes parcerias mas que demonstra que há mesmo espiritos livres que nasceram para trabalhar juntos.

 

5

No Country For Old Men

 

Foi o filme mais premiado do ano. Óscares, Globos, prémios da critica...mas a verdade é que No Country For Old Men não traz nada de novo a não ser o facto de comprovar a qualidade de toda a cinematografia anterior dos irmãos Coen. O que está aqui já existe em Fargo e nas suas obras mais ácidas. Uma violencia desmesurada, sem provavelmente o mesmo controlo estético que possuem os últimos Cronenberg, e um conjunto de personagens que vivem intensos conflitos interiores. De um lado um assassino em serie que acredita ser uma espécie de reencarnaçao do destino, capaz de decidir com uma moeda ao ar a vida de uma pessoa. Do outro, um policia, também ele com um passado negro, que se encontra incapaz de entender o ritmo violento do seu mundo. E no meio o tipico "white trash" em versão sulista que se encontra no meio desta encruzilhada devido a uma mala com dinheiro de traficantes. O trabalho de Roger Deakins capta a aridez do deserto e da alma humana num mundo onde a tiro se resolvem os problemas que de outra forma parecem não ter solução. Os Coen sempre foram provectos em desmistificar o uso das armas e da violencia, olhando para elas como um reflexo natural da sociedade norte-americana. No Country for Old Men é isso mesmo, mais um retrato social da America escondida e selvagem.

 

4

3:10 To Yuma

 

Sempre que se diz que o western morreu comete-se um grave erro. O western - a expressão artistica maxima do cinema norte-americano - já não é o crowd pleaser do grande público como foi até aos anos 60. Mas não porque a sua estética e ideais fossem ultrapassados mas sim porque o mundo urbano transportou os seus conflitos emocionais e os seus duelos entre o Bem e o Mal para as ruas onde vivia, para as cidades. E daí o irromper do cinema de acção e dos thrillers a partir dos sessenta. Ao western restou-lhe então um punhado de bons nomes que tem sido capazes de o manter vivo, apesar de tudo, com filmes como 3: 10 To Yuma. Apesar de um remake de um velho clássico, este é um filme dos dias de hoje. Traz consigo o dinamismo, a critica social e a humanidade que talvez faltassem a muitos filmes dos 50 ou 40. Mas também ressuscita o velho espirito de coragem e camaradagem que fez do western um simbolo do sonho americano. Dirigido soberbamente por James Mangold, o filme vive do show de Christian Bale e Russell Crowe, dois actores contemporaneos que sobreviveriam no meio de todas as estrelas do passado, sem perder brilho. E é essa a ideia que fica com este filme. Longe de um mero revival do genero, este 3:10 To Yuma tem tudo para ser um filme capaz de lutar com grandes titulos do passado como um dos mais fascinantes westerns da história.

 

3

Gomorra

 

Mais do que a polémica que criou, Gomorra é um exercicio de violencia psicológica abrumador. Não é o tipico filme de máfia a que The Goodfather nos habituou (e que Scorsese, De Palma e outros se fartaram de emular, para não dizer, copiar, em grande parte da sua filmografia). É um filme acima de tudo realista porque bebe directamente de um relato apaixonante vivido na primeira pessoa de um mundo onde o glamour e o cavalheirismo não tem lugar. Aqui luta-se para sobreviver vinte e quatro horas por dia e quando a solução é morrer ou matar, a escolha não se revela dificil. O filme é um exercicio cinematográfico fascinante na medida em que consegue conjugar um excelente aproveitamento do espaço com uma força narrativa intensa que dá asas ao elenco para se transportaram literamente para dentro de personagens que não são nem boas, nem más. Estão vivas - as que sobrevivem - e isso é o que lhes importa. Herdeiro natural dos filmes neo-realistas da década de 40, Gomorra vive despojado de artificios e maneirismos. A vida é cruel e sanguinária e quem o assume estará sempre um passo adiantado em relação aos outros. 

 

2

WALL-E

 

O cinema de animação é quase tão antigo como o cinema em si, mas cento e tal anos depois ainda é dificil para as pessoas olharem para um filme animado e levarem-no verdadeiramente a sério. Mesmo os mais aplaudidos filmes de animação da Disney eram sempre vistos como fábulas infantis, quando eram muito mais do que isso. Com WALL-E não há que enganar. Estamos diante de uma história que vale ouro, uma realização soberba e uns desempenhos apaixonantes, apesar de não haver actores fisicos, só personagens...e que personagens. Mais do que a mensagem ecologica clara que o filme transmite, há muita psicologia e antropologia na analise a WALL-E. É um filme acima de tudo sobre a Humanidade e como esta sobrevive, não através das pessoas, mas graças um simples robot, capaz de despertar as consciencias de quem está adormecido. Adormecido por este mundo empresarial e corporativista que nos tem a todos a viver em pequenos casulos alheados do que se passa fora do nosso quintal. WALL-E não é o filme perfeito mas é um filme fabuloso e que não pode ser deixado de lado apenas por ser parte da nossa imaginação.

 

1

The Dark Knight

 

O cinema é vida. É movimento. É sensação. É paixão e ódio de mãos dadas. E é acima de tudo, mais do que arte, mais do que entretenimento, um meio para rasgar a alma do adormecido e elevar aos céus o aventureiro. E se existe algum filme em 2008 capaz de despertar o mundo a gritos, esse foi The Dark Knight. Seja pelo trabalho absolutamente notável de direcção de um cineasta genial rodeado de uma equipa de técnicos de primeiro nivel. Seja pelo elenco estelar e humano onde é complicado eleger entre um sóbrio mas louco Christian Bale e um lunático tão tranquilo como Heath Ledger. Seja pelo argumento escrito sem mácula ou por toda a recriação de um mundo, que apesar de irreal é um espelho bem certeiro do mundo ocidental em que vivemos, The Dark Knight é um filme inimitável. Um herdeiro directo do cinema noir, um épico visual e humano impressionante e um filme de actores, tudo ao mesmo tempo. Completo, apaixonante, TDK marca um ponto de viragem na história do cinema de acção e aventura. Tira de um canto escuro as (boas) adaptações do universo comic e mostra que um filme inspirado no heroi criado por Bob Kane tem tanto valor como Hamlet ou Aquiles. Quando o importante é transmitir a emoção do momento, apenas temos que fechar os olhos e imaginar...e a magia faz o resto. E The Dark Knight é magia pura!

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 13:39
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Terça-feira, 30 de Dezembro de 2008

As 10 desilusões de 2008

Não se trata de avaliar o pior filme do ano. Afinal, provavelmente, os piores nunca chegarão a estrear numa sala e estão agora numa estante alta de um qualquer clube de video. Trata-se essencialmente de eleger aqueles filmes, que por vários motivos (projecção, argumento, elenco, autor, ...), goraram as expectativas que tinham sido criadas à sua volta. Alguns dos filmes aqui destacados não são necessariamente maus filmes, mas poderiam ter sido muito mais e ter tido um papel de maior destaque neste ano.

 

10

Atonement

 

Inspirado num bem sucedido romance de um dos escritores da moda, Atonement estava anunciado como um desses grandes melodramas ao velho estilo de Hollywood. A narrativa era impressionante no papel e, desde o inicio, o projecto parecia condenado ao sucesso. Apesar disso, Atonement está muito longe de ser um grande filme. O elenco - da popular Keira Knightley a um sonso James McAvoy - está a léguas do que se exigia para um filme com esta carga dramática, e Joe Wright mostrou que há histórias que se podem adaptar facilmente e outras que necessitam algum engenho para funcionar. E esse engenho faltou-lhe desde o primeiro segundo. O filme resultou bem nas bilheteiras (sem ter tido um ano brilhante), foi nomeado a uns quantos prémios de prestigio, mas passou claramente ao lado da fama, sem no entanto baixar à mediocridade.

 

9

Australia

 

Outro filme que poderia ter sido um melodrama épico e que conseguiu repetir todos os defeitos de um filme kitsch que quer ser muito e acaba por não ser nada. Durante anos ouvimos falar deste projecto de Baz Lhurmann, que com um par de filmes dinamicos tinha conseguido elevar-se a si mesmo à condição de autor fora do mainstream. Publicitou Australia como o Gone With the Wind australiano e ao subir tanto as expectativas destruiu, já à partida, qualquer hipótese de sucesso do filme. Porque Jackman e Kidman não são actores fabulosos. Porque a sala de montagem continua a ser, como na origem do cinema, o elemento central para definir o sucesso ou fracasso de um filme. E porque simplesmente a história não era o realista e apaixonante suficiente para criar uma aura de grandeza à volta de um filme que sempre quis andar em bicos de pés.

 

8

Burn After Reading

 

Num mesmo ano dose dupla dos Coen. Depois do sucesso estelar que teve No Country For Old Men, e que supôs aliás a sua consagração no meio mainstream, os irmãos Joel e Ethan Coen voltaram a um registo onde já conseguiram bons e péssimos resultados: a comédia. Burn After Reading roda à volta de um grupo de personagens estúpidas até à medula, muito longe do sarcasmo social que estava detrás dos protagonistas de filmes como The Big Lebowski (que continua a ser a sua obra-prima). Apesar de repetirem com a sua habitual "troupe" de actores, aos Coen faltou-lhes dinamismo e energia para transformar um enredo pouco credivel num filme convincente. Não é a sua pior comédia (há muito, muito pior na sua filmografia mais recente), mas é um filme que está a milhões de anos luz do que são capazes de fazer. Como o provaram aliás, há bem pouco tempo.

 

7

The Incredible Hulk

 

Ang Lee tinha conseguido transmitir a sensibilidade caracteristica das suas produções à primeira adaptação cinematográfica séria das aventuras de Hulk, o alter-ego destruictivo de Bruce Banner. Em 112 minutos Louis Leterrier (que o melhor que tem no curriculum é Danny, The Dog..o que diz tudo) consegue destruir essa herança por completo. Edward Norton substitui a outro grande da sua geração, Eric Bana, mas o mal já vem de raiz e nem ele é capaz de salvar este barco do naufrágio. Pelo menos as expectativas já eram baixas quando se soube da mudança drástica que sofreu a produção.  

6

Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull

 

Durante anos fomos bombardeados com noticias e falsas noticias do regresso de Indiana Jones. Parecia tão improvável que quando Lucas e Spielberg confirmaram que, efectivamente, o arquelogo mais famoso da história do cinema ia voltar, parecia uma brincadeira de 1 de Abril. Mas não era, infelizmente, e os amantes da trilogia original (uma das traves mestras do cinema blockbuster dos 70/80) foram forçados a ver como um decrépito e acabado Harrison Ford voltava a pegar no chapéu e no chicote para se meter numa aventura sem pés nem cabeça. No elenco também andavam por lá Cate Blanchett (uma actriz capaz do melhor e do pior, já se viu) e o novo protegido de Spielberg, Shia LeBouef. Resultado: as bilheteiras agradeceram o empurrão que o filme deu ao mercado, Spielberg volta a ter uma nódoa negra na sua complexa filmografia (alterna habitualmente obras-primas com filmes devastadoramente maus) e os apaixonados da saga original sofreram o mesmo sindrome que já tinha passado aos amantes de Star Wars. Ás vezes é melhor deixar as coisas como estão, a não ser que se chame Christopher Nolan.

 

 5

 Amália, o Filme

 

O cinema portugues continua a ser...o cinema portugues. É impressionante que a estas alturas do campeonato, quando qualquer país da Europa é capaz de apresentar, com regularidade, filmes interessantes capaz de projectar o nome do país no estrangeiro, que Portugal continue a ter de levar com trabalhos como Amália, o Filme. Falou-se no grande biopic nacional, num filme de elevada produção e com um dinamismo fora de vulgar comparado com a estética habitual. Mas o resultado é um tremendo vazio que continua a espelhar a falta de meios e de talento que tem o cinema made in Portugal. Se a França tinha sabido apresentar uma aceitável homenagem a uma diva como Piaff, por cá havia a obrigação de fazer um trabalho igualmente decente. E não se pediam biopics a la Hollywood. Apenas um pouco de nivel. Afinal em Amália, resulta que não há musica, que não há personagens e que não há história. Apenas uma sucessão de tristes episódios que representam, também eles, pelo seu vazio, a sina do cinema portugues que continua a afundar-se enquanto o público é forçado anualmente a decidir-se entre o hermetismo oliveiriano e os nus de Soraia Chaves. Para isso, realmente o melhor é ficar por casa.

 

4

W.

 

Oliver Stone é um dos melhores cineastas que o cinema americano deu nos últimos trinta anos. Um verdadeiro maverick que acredita no que pensa e gosta que os seus filmes transmitam os seus ideais. Essa postura já lhe valeu assinar obras fabulosas. Mas também provocou que a sua filmografia esteja cheia de altos e baixos. E já vão dois seguidos. Depois de se debruçar sobre o drama humano do 11 de Setembro, sem sucesso, em World Trade Center, o cineasta que já tem no curriculum filmes como Platoon, JFK ou Nixon, decidiu tratar outro grande drama: a presidencia de George W. Bush. A figura de Bush polarizou como nunca o mundo face aos Estados Unidos. No entanto, Stone, um critico acérrimo do presidente,  longe de explorar esta crescente raiva contra uma administração marcada por sucessivos erros, patetiza a figura do homem, criando até um sentimento de pena face a um individuo que estava mais preparado para abrir um saloon do que para ser presidente dos Estados Unidos. W. podia ter sido a critica certeira num ano em que um novo vento anuncia mudanças em Washington. Mas alinha pelo mesmo diapasão dos últimos anos deste Bush na presidencia e é um filme pesado e sem chispa, incapaz de transmitir as vibrações de um "yes, we can".

 

 3

The Darjeeling Limited

 

Há cerca de uma década saiu uma nova fornada de jovens cineastas apostados em procurar algo novo num cinema excessivamente marcado pela ansia do lucro. Não eram os indies undergrounds da escola de Cassavettes, Ferrara ou Cronenberg. Eram autores que queriam fazer parte do sistema, mas dar-lhe um rosto distinto. Entre esses estava Wes Anderson. Para muitos um dos mais talentosos da sua geração, a verdade é que Anderson conseguiu com The Royal Teenembaus e The Life Aquatic of Steve Zissou, alguns dos melhores momentos cinematográficos dos últimos dez anos. Mas a formula, tanta vezes repetida, perde frescura e sentido de novidade. E estagna-se num cinema hermético e incapaz de ir mais além. O que em 2001 tinha piada e era realmente um tiro no escuro agora torna-se previsivel e limitado. É isso que acontece com The Darjeeling Limited, um filme que volta a reunir a tropa habitual do cineasta (com Andrien Brody como novidade) mas que também peca por repetir todas as fórmulas já usadas até à exaustão. Para os admiradores do realizador, é mais uma obra para a galeria. Mas para quem tinha em Anderson um cineasta capaz de injectar sangue novo constantemente, soa a obra fora do prazo de validade.  

 

2

There Will Be Blood

 

Há uma certa tendencia dos criticos a aplaudir de pé tudo o que é diferente. Mas nem sempre tudo o que luz é ouro, nem tudo o que jorra é petróleo. There Will Be Blood é desses filmes capaz de dividir opiniões para toda uma vida. Haverá os seus defensores indefectiveis e os seus detractores eternos e é muito pouco provavel que alguém mude a sua posição. Porque é um filme claramente provocador, que aposta no minimalismo (da banda sonora de Tom York à fotografia intensa do deserto) visual e sonoro extremo. O projecto era ambicioso (e Paul Thomas Anderson, ao contrário do que se disse de Wes Anderson, é um realizador corajoso) mas no final soa forçado. Tudo. E se o desempenho de Daniel Day-Lewis é um tour de force extraordinário, que ficaria bem em qualquer filme, já todo o resto do elenco é reduzido a um amadorismo quase bressoniano. Ao tentar evocar o Monument Valley de Ford ao mesmo tempo que reduz tudo ao minimalismo dialético de Ophuls ou Bergman, cria-se na narrativa uma confusão intensa que acaba por não desembocar em bom porto. O final surrealista e despropositado confirma que desde o primeiro plano até ao final, o espectador anda à deriva, sem nunca encontrar o seu rumo.

 

1

Into the Wild

 

Há filmes que são apenas decepcionantes. E há outros que vão muito para além disso. A critica apaixonou-se pela aventura de um jovem yuppie que deixa tudo para trás (sociedade, familia, cartões de crédito) e decide partir à aventura para viver como um selvagem no longinquo Alasca. Sean Penn é um actor extraordinário, disso não cabe dúvida nenhuma. Mas como cineasta não tem sentido de dinamismo nem da importancia em criar narrativas concisas e que se conectem bem, do primeiro ao último plano. Já tinha passado o mesmo com o lastimavel The Promise e volta a passar o mesmo este Into the Wild. O elenco, liderado por um incipiente Emile Hirsch, defrauda desde o primeiro instante, enquanto que o argumento não consegue, em nenhum momento, criar aproximação com o espectador. Resulta que o filme parece querer funcionar como um manifesto libertário num mundo onde o capitalismo vive uma crise aguda numa exaltação ecológica de regresso às origens. Mas acaba por ser uma aventura sem sentido e com pouco pulso, capaz de fazer o mais santo dos espectadores sair da sala antes para se meter a ver um qualquer filme nacional.  

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 22:20
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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

As 10 performances de 2008

Continuando a rever os momentos mais marcantes do ano cinematográfico que chega agora ao seu final, aqui deixamos o nosso particular top das dez melhores performances do ano. Não se trata de uma eleição do melhor ou pior actor, senão uma escolha sobre os desempenhos mais impactantes e apaixonantes de 2008.

 

10

Belen Rueda (El Orfanato)

 

Actriz espanhola de formação televisiva (participou em algumas das séries mais populares da última década), Belen Rueda deu o salto para o grande ecrã numa fase já adiantada da sua carreira, em Mar Adentro. O seu papel permitiu-lhe vencer o Goya a Actriz Revelação de 2004 e confirmou o seu estatuto. Em El Orfanato, obra de estreia do cineasta Juan Antonio Bayona, a actriz dá corpo a uma mulher que regressa ao orfanato onde foi criada, na costa asturiana, para transformá-lo numa residencia para jovens com discapacidades. No entanto, no dia da inauguração, o seu filho desaparece obrigando-a a entrar numa espiral de busca e desespero que a leva a relembrar fantasmas antigos que pensava que tinham desaparecido. O seu desempenho é o coração do filme, arrebatador desde o primeiro suspiro, e apesar de não ser uma revelação pura e dura, é a confirmação de uma actriz que vive eternamente à sombra de nomes mais sonantes do cinema espanhol.

 

9

Ellen Page (Juno)

 

Surpreendeu meio mundo (o que viu o filme), com o seu poderoso desempenho em Hard Candy, onde se transforma numa maria-rapaz justiceira, com sede de sangue e vingança a transpirar por todos os poros, num jogo de insinuação que era tudo menos erótico, dado o seu inexistente sex-appeal. Foi-se o filme, ficou o nome na retina. E depois veio Juno. Mais um desses productos da escola do cinema indie norte-americano, cada vez mais a correr o risco de se tornar num genero previsivel. Mas em Juno todo o destaque esta de novo centrado numa jovem, ainda sem o tipico sex-appeal que se costuma procurar em actrizes da sua idade, que se debruça sobre a problemática de uma gravidez na adolescencia. O seu papel é o elo conductor do filme que tanto animou a critica e a sua nomeação ao Óscar de Melhor Actriz, foi a confirmação já esperada. Pode estar aqui uma grande actriz em potencia. De momento faltam um par de filmes para confirmarem o seu verdadeiro valor, mas a sensação de 2008 já tem nome próprio.

 

8

Michael Fassbender (Hunger)

 

O seu intenso desempenho faz lembrar Daniel Day-Lewis nos seus melhores dias (sim, vem-nos claramente à cabeça o In the Name of the Father). A sua abnegação e a raiva que transparece no seu olhar são a arma mais forte do filme do estreante Steve McQuenn, Hunger. A dramática história de Bobby Sands, o activista do IRA que se declarou em greve de fome para tentar quebrar a teimosia de Margaret Tatcher correu o mundo. O filme é um portentoso exercicio de drama e contenção, mas o catalizador de toda a narrativa (e de toda a angustia), é o jovem Fassbender, que antes desta aventura andava escondido na televisão e agora até já tem presença assegurada no novo filme de Quentin Tarantino.

 

7

Toni Servillo (Gomorra)

 

Num ano dourado para o cinema italiano, um actor serve de eixo conductor. Toni Servillo não só dá a cara por Gomorra, o polémico filme que desfaz as entranhas da máfia napolitana, como ainda teve tempo de ser o protagonista do outro grande sucesso italiano do ano, Il Divo. Um ano dourado de um actor, que como a maioria dos grandes interpretes europeus, sofre de uma doença chamada "anonimato agudo". Aos 50 anos chegou ao ponto mais alto da sua carreira, simplesmente sendo o que sempre foi. Um actor capaz de transmitir a garra e atracção habitual dos interpretes latinos, com uma notável contenção dramática só ao alcance dos melhores. Um nome de luxo para qualquer elenco e um dos nomes próprios do ano.

 

6

Ryan Gosling (Lars and the Real Girl)

 

Está-se a tornar num caso muito sério de talento tido em pouca consideração. Sempre foi assim a vida de Gosling. Uma das estrelas do clube Disney, foi sempre preterido pelos seus colegas à hora de assinar autografos (entre eles estavam Timberlake, Spears e Aguillera). Saltou ao cinema e levou aquilo a sério. Em The Notebook já mostrava um talento muito sério e com Half Nelson confirmou todas as suspeitas. Estava ali um Edward Norton em potencia. E porque lembra ele Norton? Porque também esse magnifico actor continua a viver a sua particular via sacra, relegado para papeis em produçoes que pouco tinham a ver com o seu brutal talento. O mesmo se passa com Gosling que é capaz, sozinho (bem, com a ajuda de uma boneca insuflavel), de fazer de uma história louca como Lars and the Real Girl, um filme divertidissimo e até mesmo tocante. Aqui está um dos actores mais geniais da sua geração, e vem-no provando, ano após ano. Continuamos à espera do productor/realizador que o comece a tomar mais a sério.

 

5

Christian Bale (The Dark Knight/3:10 To Yuma)

 

Quando todos falam de The Dark Knight, todos falam de Heath Ledger. É normal, é uma performance absolutamente alucinante, um romper das normas que abana qualquer um. Mas quem se lembra de Batman Begins, sabe que a verdadeira trave mestra deste ressuscitar do Caveleiro das Trevas chama-se Christian Bale. O actor gales que já foi menino prodigio e que se converteu num dos mais apaixonantes nomes da sua geraçao, tem tudo para se tornar numa estrela cintilante. E este ano provou-o uma vez mais com dois papeis assombrosos. Voltou a ser o Bruce Wayne em TDK, com a elegancia e soltura que já nos tinha habituado no filme anterior, mas, mais ainda, soube mostrar uma vez mais toda a sua polivalencia (estamos a falar do mesmo actor de The Prestige ou American Psycho) ao dar corpo a um rancheiro à procura da redenção aos olhos do seu filho em 3:10 To Yuma.  Um filme onde trabalha junto a outro "monstro", Russell Crowe, assinando um poderoso desempenho capaz de fazer corar o seu antecessor na versão original. Bale é mais do que um actor em potencia. É um astro à pedir um papel para explodir. A combustão já a iniciou há alguns anos, resta ver até quando dura o rastilho de polvora.

 

4

Javier Bardem (No Country For Old Men)

 

Conseguiu a proeza de conquistar público e critica com uma interpretação quase inexpressiva e sem dialogos. Um feito tendo em conta que a obra dos Coen é largamento apreciada mas poucos são os que realmente se concentram nos actores dos seus filmes (a prova é que de Brolin e Tommy Lee Jones pouco se falou). O seu Anton Chigurh é um personagem na escola dos Hannibal Lecter, um psicopata que se cre invencivel e que acredita ter o poder de determinar a morte de alguém como se fosse ele quem controlasse o destino. A sua assombração é uma constante em No Country For Old Men, e a verdade é que a sua performance capta mais a atenção do que propriamente a direcção cuidada e académica dos Coen no filme mais galardoado do último ano.

 

3

Johhny Depp (Sweeney Todd)

 

Será Johnny Depp capaz de fazer um mau papel? Sim. Mas que é raro, isso é. Não importa se é vestido de pirata, de cineasta de terceira linha ou de policia à paisana. Se tem tesouras ou demasiada maquilhagem na cara. Depp é, muito provavelmente, um actor unico na história do cinema. Original, intenso, com um sentido da comédia fora do vulgar, com uma capacidade para dramatizar soberba, é um actor completo. Como muito poucos. E claro, ter ao seu lado o seu mentor, amigo e parceiro de sempre, ajuda. Em Sweeney Todd, Depp canta, Depp corta cabeças, Depp ama e vinga-se. Do primeiro ao ultimo acorde, perdão, plano, o filme é Depp. Gótico, surrealista, maneirista, chamem-lhe o que quiserem. Mas se há algo capaz de fazer deste musical da Broadway um filme que vale a pena ver, esse é JD.

 

2

Daniel Day Lewis (There Will Be Blood)

 

O homem que deixou de ser um dia actor para se tornar sapateiro nas ruas de Florença, enquanto se preparava para Gangs of New York  esta de volta. Filho de uma familia mitica da interpretaçao britanica, teve toda a formação tque um jovem actor podia desejar. Mas desde sempre foi um espirito livre e fugindo às rigidas normas britanicas enveredou por outro caminho e começou a trabalhar com jovens cineastas nos anos 80 em filmes tão polémicos como My Beautiful Laundrette. Em 1989 venceu um Óscar de Melhor Actor mas a partir daí foi quando assinou os seus papeis mais memoráveis. Com uma personalidade única, esquivou-se à fama e àqueles que falavam de um "novo Brando" em versão inglesa e refugiou-se do mundo. Scorsese resgatou-o mas foi P.T. Anderson quem lhe voltou a dar um papel para Day-Lewis devorar. Uma construção impressionante, do primeiro ao último detalhe, fazem de Daniel Plainview, mais um rostro inesquecivel para a sua galeria. No meio disto tudo, o segundo Óscar de Melhor Actor, é um detalhe menor. Resta saber quantos anos vamos ter de voltar a esperar por um novo "show" do indiscritvel actor britanico.

 

1

Heath Ledger (The Dark Knight)

 

É assim que nascem os mitos. Quando daqui a muitos anos os cinéfilos do futuro olharem para trás, 2008 vai ser o ano de Heath Ledger. Porque era uma das maiores promessas do cinema norte-americano e  morreu tragicamente de overdoso no inicio do ano. Porque fechou o ano a arrebatar postumamente todos os prémios que lhe apareciam à frente. E porque a meio do ano deu ao mundo a conhecer a sua mais fabulosa perfomance, um exercicio de anarquismo louco, de um sado-masoquismo visual arrebatador, como há muitos anos não se via. 

O seu Joker é mais do que um ser perturbado até à medula. É um desafio constante à sociedade de hoje, um soco no politicamente correcto mundo podre e corrupto em que todos vivemos. E é por isso impossível não desprezar e ao mesmo tempo sentir uma profunda atração por este vilão/anti-vilão. O trabalho de Ledger é indiscritivel e mostra o quão longe pode chegar o processo criativo de um actor. Deixou para a história uma personagem que já entrou na galeria dos imortais e que vai fazer dele, para os amantes do cinema futuro, um nome com tanta força como o que teve, para a sua geração, James Dean.

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 19:13
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Domingo, 28 de Dezembro de 2008

12 Meses, 12 Imagens (II)

Agosto de 2008

Estreia nos Estados Unidos WALL-E. O filme da Pixar tornar-se-ia rapidamente no icone da consagração do cinema de animação dentro da corrente mainstream. Mais do que os prémios que viria a conquistar, o filme de Andrew Stanton marcou de novo a diferença entre o trabalho da Pixar e a restante animação mundial, mostrando que um filme arrojado artisticamente ultrapassa barreiras de idade e nações. Um filme ecológico e apaixonante que representa bem o espirito do ano.

Setembro de 2008

A edição de este ano do festival de Veneza coroa surpreendentemente a Daren Aranosfky e Mickey Rourke como os melhores do ano. O seu The Wrestler, um drama á volta de um boxeur á beira do seu último combate, conquistou a critica e lançou Rourke para a corrida ao Óscar de Melhor Actor, num inesperado comeback do enfant terrible do cinema americano dos anos 80.

Setembro de 2008

O mundo do cinema perde a sua última grande estrela. Paul Newman, falece, após doença prolongada, aos 83 anos. O último dos grandes clássicos, herdeiro da escola do Actor´s Studio, Paul Newman transformou-se rapidamente num dos grandes icones do século XX. Os seus olhos azuis e sorrio matreiro fizeram dele uma estrela, e o seu talento descomunal consagraram-no como o maior da sua geração. Com Newman fecha-se também um ano de perdas trágicas. Para além de Heston e Ledger, também já tinham falecido Anthony Mingella, Sydney Polanski e Richard Widmark, entre outros grandes nomes da história da 7 Arte.

Novembro de 2008

Estreia Quantum of Solace, a nova aventura de James Bond. Depois do sucesso de Casino Royale, o filme que revitalizou a saga, muito se esperava do novo filme de 007. As expectativas cumpriram-se na integra. O filme foi mais um dos grandes sucessos de bilheteira de 2008 e Daniel Craig voltou a mostrar do que é capaz, dando vida a um heroi do séxulo XX que definhava nas suas últimas aventuras.

Dezembro de 2008

Gomorra é consagrado como o Melhor Filme Europeu de 2008. O filme italiano já tinha conquistado o prémio do Juri em Cannes. A polémica á volta do livro de Roberto Garrone fez de Gomorra um dos filmes mais esperados do ano. O sucesso da critica e do publico rapidamente tornaram o filme um sucesso em toda a Europa. A vitória nos prémios Europeus foi a consagração de um ano de ouro para o cinema italiano, graças também ao sucesso de Il Divo.

Dezembro de 2008

O ano cinematrográfico portugues tinha arrancado em Fevereiro com a polémica á volta do financiamento do maior festival de cinema nacional, o Fantasporto. O destaque foi a vitória do cinema espanhol de terro graças a REC e El Orfanato.

No entanto foi a 11 de Dezembro, com o centenário de Manoel de Oliveira, que o cinema portugues voltou á ribalta. O realizador portuense cumpria 100 anos realizando, no meio de um coro de festejos da elite intelectual lusa e perante a indiferença do público em geral.

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 14:57
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Sábado, 27 de Dezembro de 2008

12 meses, 12 imagens (I)

O ano de 2008 está prestes a chegar ao fim e o Cinema decidiu fazer um recopilatório dos doze momentos cinematográficos mais marcantes do ano. Entre estreias, sucessos, triunfos e desaparecimentos de velhas e futuras glórias, 2008 foi mais um ano marcante para a história da 7 Arte. Aqui ficam as doze imagens de 2008...

 

Janeiro de 2008

O Screen Writers Guild leva a sua greve até ao extremo, obrigando á cancelação da gala dos Globos de Ouro, deixando Hollywood em verdadeiro "estado de sitio". No mes seguinte, e depois de duras negociações, o SWG consegue chegar a um acordo satisfatório com as produtoras, vendo cumpridas as exigencias de uma maior percentagem de lucro com o dinheiro alcançado graças á venda de dvds. 

 

 Janeiro de 2008

O promissor actor australiano Heath Ledger é encontrado morto, vitima de uma overdose. O actor, um dos mais promissores da sua geração, era conhecido pela sua vida tumultuosa e pelos seus excessos. Nomeado ao Óscar pelo seu papel em Brokeback Mountain, Ledger estava a terminar a rodagem de The Dark Knight, filme que, paradoxalmente, viria a consagrá-lo como o actor mais marcante de 2008, postumamente.

Fevereiro de 2008

Depois de ter estado ameaçada pela greve dos argumentistas, a cerimónia de entrega dos Óscares realizou-se sem sobressaltos. A noite serviu para consagrar finalmente a carreira dos irmãos Coen, que já tinham estado perto da glória treze anos antes com Fargo. A vitória de No Country For Old Men foi a grande noticia da noite, que também consagrou Daniel Day-Lewis e a francesa Marion Cottilard, como os melhores interpretes do ano anterior.

Abril de 2008

O veterano actor norte-americano Charlton Heston falece na sua casa em Los Angeles. O actor, de 85 anos, tornou-se num dos maiores mitos do cinema norte-americano graças aos seus papeis como protagonista nos grandes épicos dos anos 50 e 60. A sua carreira de actor alarogu-se até ao final dos anos 70, altura em que se retirou para liderar a National Riffle Association, o que lhe valeu uma série de criticas pelos sectores mais liberais da sociedade norte-americana.

Maio de 2008

O filme frances Entre les Murs foi o grande vencedor do Festival de Cannes, que mais uma vez teve lugar na cidade do sul de França. O filme do cineasta Laurent Cantet debruça-se sobre a complexidade multicultural da sociedade francesa, utilizando uma sala de aula como metáfora para analisar o estado da sociedade gaulesa contemporanea. Entre os outros vencedores, destacaram-se o italiano Gomorra.

Julho de 2008

Estreia nos Estados Unidos aquele que viria a ser o grande filme do ano. Esperado desde a estreia de Batman Begins, o seu sucessor, The Dark Knight, não se tornou só no filme mais lucrativo do ano (e um dos maiores de todos os tempos), mas foi também um sucesso de critica nos dois lados do Atlantico. Dirigido por Christopher Nolan, o filme conta com espectaculares desempenhos, em particular do falecido Heath Ledger, que faz do seu Joker a personagem mais fascinante do ano.

Continua amahã...

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 17:01
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Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2008

Disney abdica de Narnia

Prometia seguir a estela de sucesso de Lord of the Rings fazendo também competição directa com o público juvenil de Harry Potter. Nem uma coisa nem outra. A produção de The Chronicles of Narnia, adaptação da obra literária de C.S. Lewis, está longe de se revelar o sucesso que todos previam que fosse.

 

De tal forma que a sua productora, a gigantesca Disney, desistiu de seguir com a adaptação da saga ao cinema, alegando problemas logisticos. O filme que se seguia na saga, The Voyage of the Dawn Treader, já tinha estreia marcada para Maio de 2010, mas o fracasso de Prince Caspian, o segundo filme da obra, fez a produtora repensar seriamente a estratégia.

 

No entanto, os fãs de Narnia esperam que outra distribuidora de renome (fala-se na omnipresente Fox) pegue no projecto e garanta que o elenco dos filmes iniciais também não volte as costas à saga.  

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 16:29
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Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2008

Che - A meio caminho entre a lenda e a realidade

Há personagens que a história cria. E há personagens que nascem no cinema. E depois há aqueles que se imortalizam em vida para logo se afiançarem para a eternidadecom o seu respectivo biopic. Ernesto Guevarra nasceu para ser imortalizado em filme, apesar da sua lenda não necessitar qualquer versão de celuloide para fazer dele um dos icones do século XX. O projecto era ambicioso e há muito que germinava. Finalmente ganhou vida, mas o resultado final não poderia ter sido mais decepcionante, especialmente se tivermos em linha de conta que a há vidas que não precisam, em nenhum momento, de adornos especiais para resultarem convincentes. 

Steven Soderbergh, cineasta experienciado no mundo indie, tentou fazer deste biopic bélico, uma história de ascensão pessoal de um homem com um carisma excepcional, um génio fora do comum, mas que não conhecia limites. O resultado é um filme sobre um homem que tem traços de super-heroi em forma humana e que açambarca, para si, todo o protagonismo de um movimento que funcionou com várias cabeças e um lider claro. O formato em flash-back, é a fútil tentativa de Sodebergh de tentar dar uma dinamica narrativa a um filme que parece não ter passado pela sala de montagem. O amontoar de sequencias, todas de traços muito similares, apastelenta o filme desde o inicio e longe de dar velocidade ao filme, trava-o a cada sequenica. O objectivo, parece ser o de concentrar todas as atenções no "argentino" que aterra na Sierra Maestra do nada, para se tornar num lider revolucionário sem igual, capaz de montar um exército e derrotar as tropas governamentais, sem conhecer o travo sabor da derrota. Mas a falta de equilibrio pode ser um erro dificil de reparar. E quando em causa estão personagens de tamanho carisma, a tentação é grande. Já tinha acontecido o mesmo em filmes como Alexander. E volta a passar-se o mesmo.

 

Não há aqui uma verdadeira dimensão humana, um entendimento para as acções do mitico Che, senão um desfilar de propaganda comunista, frases feitas sem um equivalente claro visual ao largo do filme. Não se entende o porque, em nenhum momento, se transparece uma verdadeira dimensão humana em nenhum dos personagens principais. Nem em Guevarra, nem em Fidel Castro - que deveria ter funcionado com personagem nuclear mas que, estranhamente, acaba relegado para uma quase caricatura - nem para o mundo que o próprio Che desafia. No meio de toda esta salada de guerrilha e selva cubana, passeia-se Benicio del Toro. O actor porto-riquenho foi um dos principais impulsionadores do projecto e é a alma do filme, quando aparece, e um dos seus pontos fracos, quando se deixa submergiri pelo tédio. No entanto, a recriação fisica e propagandistica da personagem é apreciável, até porque Del Toro nunca se assumiu ao longo da carreira como um constructor de personagens. É um digno trabalho de actor num filme confuso consigo próprio e que nunca consegue transportar fielmente o espectador para o mundo que o próprio Che soube criar.

No final fica claramente no ar a ideia de que Soderbergh foi incapaz de descubrir a essencia de Ernesto Guevarra e transforma-lo num filme. Felizmente, o "Che" já tinha ficado para a história cinematográfica anos antes, com um verdadeiro trabalho de recriação histórica onde o importante é conhecer o homem antes de se passear sobre a sua obra. Em Diarios de Motocicleta, não estamos diante do Che, mas conhecemos as suas origens e o porque do seu ideal revolucionário. Em Che estamos a meio da revolução, mas em nenhum momento conseguimos olhar para aquele homem e ver nele um dos icones da luta anti-capitalista dos anos da Guerra. Ficamos á espera pelo dia em que alguém consiga conciliar a verdade e a lenda.  

 

Classificação -

 

Realizador - Steven Soderbergh

Elenco - Benicio del Toro, Demian Bichir, Rodrgio Santoro

Produtora - Telecinco

Classificação - m/16

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 09:51
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Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2008

Ainda há estrelas a cair do céu?

Quando estreou, no longinquo ano de 1946, foi catalogado de melodramático, meloso e desadequado para o seu tempo. Estavamos no pós II Guerra Mundial, os anos 40 tinham aberto o passo ao cru cine noir e o velho império de Hollywood começava lentamente a desmoronar-se. Outros tempos para que um veterano dos anos de ouro assina-se a sua obra prima, o filme que catalogou "como o mais belo alguma vez feito". O resultado está á vista. Um falhanço na bilheteira como há muito não se via na obra do cineasta. Esmagado pela critica, agora rendida defenitivamente aos Bogart, Mitchum e Hitchocok´s, o filme parecia votado ao eterno esquecimento. No entanto, chegaram os anos 60. E com ele a televisão. E na noite do 24 de Dezembro, para encher a programação, começaram a programar-se filmes "familiares". E subitamente, quando ninguém o esperava, o filme voltou. Ano após ano não havia televisão que não o emitisse até á exaustão. Os criticos começaram a reavalia-lo. O público a compreende-lo. E a história voltou a acolhe-lo no seu seio. Mas, meio século depois, será que alguém conseguiu verdadeiramente descifrar It´s a Wonderful Life?

Nem á época, nem hoje. O filme continua a ser visto sobre os mesmos parametros analíticos e o único que mudou entretanto foi a sociedade. Da negritude do pós-guerra, chegaram os gloriosos anos 50 e 60, e a bondade de George Bailey passou a ser vista como algo fascinante para as novas gerações. O filme tornou-se num icone do sonho americano, da coragem do homem comum, capaz de lutar até ao fim, nem que para isso necessita da ajuda da sua comunidade, amigos e familia. Estavamos perante a verdadeira essencia da sociedade americana e ao inexplicável insucesso inicial, chegou a previsivel consagração. Já não apenas em aspectos cinematográficos, já que aí, o filme continua a ser o mesmo. Não escapou á passagem do tempo, mas conservou-se muito bem, comparativamente com outros filmes contemporaneos, mais alabados á época. A realização inatacável de Capra consegue criar um perfeito ambiente para a sua habitual troupe de actores onde pontifica o actor capriano por excelencia, James Stewart.

 

É curioso pensar que a critica, especialmente a europeia, sempre desprezou o Stewart capriano enquanto que elevou até ás alturas da genialidade, o actor de Hitchock, Mann ou Ford que se seguiria. Catalogariam as suas performances de perturbadas, a viver num verdadeiro limbo psicologico entre o certo e o errado, um verdadeiro homem marcado por um passado dificil de desvendar. Todo o oposto ao optimismo e coragem dos dias em que trabalhou ao lado do seu primeiro mentor. No entanto, é fácil ver, que a existir esse turning point na carreira do actor, esse momento não é posterior a este filme, como se tem escrito. Mas no próprio filme. Estamos diante de um actor marcado por uma personagem que inicia o filme a contemplar a possibilidade de suicidio. Não aguenta mais. Passou toda a vida a ajudar os outros, abdicando dos seus sonhos e ideais. Ficou preso a uma pequena cidade quando o seu verdadeiro sonho era correr o Mundo. Não ajudou o seu país na guerra enquanto viu o seu irmão ser coroado heroi. Não enriqueceu ao contrário de todos os outros e trocou a possibilidade de uma vida inesperada pela rotina habitual da luta pela sobrevivencia. Esta personagem, que vamos descubrindo em planos tão fabulosos como quando Bailey é confrontado, após a morte do pai, com a possivel falencia da sua empresa. Ou com o regresso a casa do irmão, já casada e com uma profissao de luxo assegurada. Esse homem, que criou a sua familia graças ao esforço do seu trabalho diário, é, como muitos homens do dia de hoje, um homem dividido. Entre a vida rotinária do seu dia a dia e os sonhos sucessivamente frustrados. Nesta situação vivem hoje milhões de pessoas, confrontadas com uma crise em tudo similar aquela que Bailey se deparou no dia do seu casamento.

It´s a Wonderful Life resulta como um feel-good movie devido ao seu tipico final capriano. O anjo que mostra a George o que seria do Mundo sem ele, a ajuda dos amigos, as asas finalmente entregues...a bondade triunfa...mas será que essa vitória é completa. Potter fica com o dinheiro que pertencia a George. Este continua a depender das miseras poupanças dos amigos para sobreviver e todos os seus sonhos continuam sem se poder concretizar. A crise economica que o prenderam á sua cidade natal continua a te-lo bem atado á sua casa que teve de construir a pulso.

 

Portanto, é fácil ver que o tipico filme da noite de Natal, não é o último filme da obra capriana herdeira dos ideias do New Deal. É sim o primeiro verdadeiro drama do pós-guerra, o primeiro filme a capturar a dicotomia entre o certo e o errado no meio das areias movediças que é a sociedade capitalista contemporanea. Apesar de futil. o debate sobre qual é o melhor filme da história, não deixa de ser tão fascinante como qualquer outro. No entanto, It´s a Wonderful Life é mais do que isso. Consegue ser o filme que, mais de sessenta anos depois, continua a plasmar perfeitamente a problemática existencial do homem comum de classe média e a sua constante refrega entre os sonhos de glória, aventura e conquista com a crua realidade do trabalho das 9 ás 19 atrás de uma secretária ou de pé diante do grande público. A crueza da vida continua a manifestar-se tão profundamente hoje como então, num mundo que acabava de sobreviver a uma grande crise financeira e uma guerra de proporções mundiais. Mas os sonhos não conhecem impedimentos reais para ganhar vida, e tal como George Bailey, todos temos, num canto da mente, aquela mala preparada para partir. E como George Bailey, todos temos responsabilidades que não nos deixam partir. E se Bailey se desespera, a verdade é que ele é apenas um espelho do desespero colectivo que todos sofrem no dia a dia. Se este texto fosse escrito em ingles, o trocadilho com o titulo original do filme seria um óbvio It´s Still a Wonderful Life? Mas na lingua de Camões a tradução desta obra-prima transformou-se em Do Céu Caiu Uma Estrela. Será, portanto, que ainda cairão suficientes estrelas para iluminar este negro céu?  Sonho ou realidade? Aventura ou responsabilidade? George ou Bailey? Que face da moeda nos espera amanhã?  

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 16:27
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