Quarta-feira, 30 de Março de 2011

Steinfeld, a bela adormecida

A espectacular revelação de 2010, a belissima Hailee Steinfeld, tornou-se por direito próprio numa das actrizes de moda em Hollywood. Depois da sua performance em True Grit chovem as propostas para a deslumbrante actriz de 14 anos. E o mais provável é que a sua próxima aposta pessoal seja revisitar a fábula da Bela Adormecida.

 

Sleeping Beauty, a estrear em 2013, procura uma nova abordagem à história da princesa que só é capaz de despertar do seu sono eterno com o beijo de um principe encantado. Nesta aventura, inspirada na versão revisionista de Lindsay Devlin, seguimos a protagonista dentro da sua própria mente à medida que Bela procura encontrar os caminhos escondidos dentro dos seus próprios sonos para despertar da sua eterna letargia.

 

O filme segue a tendência actual de Hollywood em revisitar fábulas infantis (Alice in Wonderland, Hansel and Gretel, Sucker Punch, Oz...) e poderá tornar-se no próximo filme de Steinfeld, já que as filmagens de Forgotten, que deveria estrear em 2012, estão actualmente em suspenso.

 

 

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 16:28
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Quinta-feira, 24 de Março de 2011

David Fincher poderá dirigir remake de Cleopatra

Depois da morte de Elizabeth Taylor muitos se recordaram das suas miticas sequências em Cleopatra. O projecto, que provocou a falência da Fox em 1963, marcou o inicio da relação amorosa da actriz com Richard Burton mas também o culminar da politica dos grandes estúdios de Hollywood, entregues de corpo e alma aos épicos históricos.

 

Cinquenta anos depois o projecto Cleopatra prepara-se para conhecer um novo capitulo. Scott Rudin, o novo Midas de Hollywood, e a actriz Angelina Jolie uniram forças para resgatar a história da última faraó do Egipto e utilizando as novas tecnologias em 3D montar um espectáculo ainda mais espampanante do que o projecto original. O filme ainda está no papel mas depois de pesar os prós e contras, Rudin está disposto a seguir em frente e tem uma carta na manga.

 

David Fincher será o realizador do filme depois da recusa de James Cameron, entregue de corpo e alma às sequelas do seu Avatar. Depois de colaborar com o productor em Social Network o cineasta vai dar o salto para um projecto de orçamento megalómano que tem previsto chegar à salas em 2013 com argumento de Brian Hengeland, o homem por detrás de Robin Hood e Kingdom of Heaven.

 

O filme será protagonizado por Angelina Jolie, a grande instigadora do remake, mas não há qualquer confirmação sobre os restantes elementos do elenco. O rumor, insistente, de que Brad Pitt daria corpo a Marco António carece de confirmação mas seria uma opção a considerar por um realizador que o ajudou a alcançar a ribalta com o sucesso Se7en a meados dos anos 90.

 

 

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 23:54
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Quarta-feira, 23 de Março de 2011

A minha Taylor já morreu há muito tempo...

Quando um grande nome do cinema morre o habitual é recorrer ao obituário escrito há largos anos, preferencialmente omitindo o lado mais negro e obscuro da vida da celebridade em questão. Hoje muitos lembrar-se-ão da grandeza interpretativa de Elizabeth Taylor, talvez a última grande representante da época dourada que viveu Hollywood nos anos 50 e 60. Também esquecerão os seus defeitos, problemas com alcool e drogas, casamentos e divórcios e confusões nos sets. A morte tem esse condão, humaniza todos sem deixar de tratar os que partem como seres quase impolutos. Mas poucos se lembram do que realmente Taylor significou. Para mim foi sempre uma lufada de ar fresco. Hoje partiu a minha actriz favorita, o meu icone sexual por excelência da história do cinema norte-americano. E isso, por muito egoista que pareça, torna-se mais importante do que todas as homenagens que lhe possam fazer.

 

 

 

Liz Taylor era morena numa época onde quase todos se afirmavam como loiras, como estrelas platinadas.

É talvez o único caso real de uma actriz juvenil transformada numa actriz adulta. De verdade pelo menos, que os demais casos palidecem em comparação. Tinha umas curvas monstruosamente seductores, um sex-appeal que começava naqueles olhos penetrantes e acabava na forma redonda das pernas sem fim. Hoje em dia, numa era onde a magreza continua a ser fashion, dificilmente encontraria lugar. Naquele tempo, onde o salto não se tinha dado ainda por completo (mas estava quase, quase), era um espelho de uma época que não voltaria. Taylor cresceu, engordou, perdeu aquele ar de beleza e progressivamente deixou de ser actriz nos filmes para passar a ser actriz no dia a dia. Essa não me interessa. Nem a dos casamentos com productores, actores e jardineiros. Essa não era nunca a minha Taylor e ela não tinha porque o saber. A minha, a que me acompanhava na mente religiosamente mais do que todas as actrizes em carne e osso da minha era, era a Maggie the Cat. A Angela Vickers. A Leslie Benedict. A Catherine Holly. A Gloria Wandrous. A Cleopatra...

Todas elas profundamente femininas. Todas elas mulheres de um imenso caracter, incapazes de se curvar ao macho-alfa dominante de turno (e eram muitos e bons, os Clift, Newman, Hudson, Dean, Brando, Burton e afins). E todas elas assumidamente sexuais. Se há algo que Liz Taylor imortalizará para sempre é o seu forte perfume sexual. Na época pura de Hollywood ela desafiava a norma. Dentro e fora do ecrã. Foi uma menina fisicamente precoce e deu muitas dores de cabeça à MGM que por decoro tinha de a vestir com camisolas largas e soutiens mais ajustados que escondessem os peitos proeminentes que a levaram imediatamente a ser conhecidas nos corredores dos estúdios simplesmente como a miss Tits. Depois do seu primeiro casamento, onde chegou virgem e acabou por ser repetidas vezes abusada pelo próprio marido, começou a entender o peso que o sexo jogava em Hollywood. E utilizou-o como poucas. O que Marilyn Monroe fazia de forma dissimulada, com aquele ar tonto com ensejo a ser considerada como uma figura intelectual, Taylor explorava-o até aos limites. Escolhia papeis polémicos, aceitava o que poucas actrizes admitiam e transformava a vida das mulheres dos actores com quem contracenava num verdadeiro inferno. Essa era a minha Liz.

 

 

 

Mas não só de curvas únicas e olhares perdidos na imensidão do desejo se resumiu a minha relação com Elizabeth Taylor.

Acima de tudo estavam as suas memoráveis sequências, as suas explosões numa especie de over-acting feminina dessa escola chamada Actor´s Studio que sempre preferiu colocar a enfâse nos homens que marcaram uma era, de Brando a Newman. Nenhuma soube explorar tanto esse poder de surpresa que lhe dava "o método". A sua doçura inicial (A Place in the Sun) tornou-se em compaixão terna (The Giant) e acabou em desespero absoluto (Cat on a Hot Thin Roof, Suddenly Last Summer e Who´s Affraid Virginia Wolf). Os seus desempenhos entram, facilmente, na galeria dos mais inesquecíveis da história do cinema e apesar de ter vencido dois Óscares (o primeiro graças a um problema de saúde que quase lhe custou a vida quando tinha apenas 28 anos e já era a estrela maior do star-system), podiam (e deviam) ter sido muitos mais. Em Cleopatra, o filme que a eternizou naquela banheira de leite que escondeu o que mais queria eu ver, cobrou mais do que qualquer outro profissional do mundo do espectáculo até então. E acreditem, valia cada dólar que lhe pagaram. Foi o seu zénite como mulher, como sonho de uma quente noite de Verão, um relembrar do seu fato de banho branco ou da almofada na cama. Como actriz, foi o principio do fim. O casamento com Burton garantiu-lhe mediatismo para o resto da vida mas minou-lhe a saúde (o tabaco, o alcool, a droga aumentaram proporcionalmente com as discussões) e depois de Who´s Affraid Virginia Wolf a fonte secou. Ninguém queria dar trabalho a uma dependente de tudo, do alcool ao sexo, e Hollywood estava mais interessado nas novas belezas finas e secas do que nas voluptuosas estrelas do passado.

A minha Taylor morreu algures em 1963 e depois tornou-se num desses fantasmas que povoam Hollywood densamente. São mais os vivos que os mortos. Como os Brandos ou Hudson da sua geração. Não soube envelhecer, não soube reciclar-se, limitou-se a continuar a ser a diva dos ecrãs num mundo que já não a queria. Com o talento e a beleza escondidos num baú, de onde nunca voltariam a sair, tornou-se numa pária. Hoje voltou a ser uma estrela. Assim é que funciona o star-system.

 

 

 

Charles Bukowski, o mais sexual dos escritores americanos, não gostava de Elizabeth Taylor, a mais sexual das actrizes americanas. Eu nunca gostei muito do provocador Bukowski mas nunca deixei de admirar cada recanto do corpo da mulher que transformou o tabu do sexo no cinema uma década antes do "flower power". Nunca precisou da nudez, hoje tão corrente, para mostrar tudo o que tinha escondido. E nunca deixou que uma personagem a impedisse de brilhar. Transformou o cinema numa arte superior com cada grito, cada esgar, cada olhar. Deu outro sentido ao feminismo com o qual Hollywood nunca soube verdadeiramente ligar. Para o mundo dos obituários pré-escritos e para os que nunca perderam um segundo a perder-se nos seus olhos violeta, Elizabeth Taylor morreu hoje, aos 79 anos, vitima de complicações cardíacas. Mas a minha Liz há muito que só existe num recanto da minha mente, de corpo e alma eterna, perdida entre fatos de banho brancos, miados a escaldar e um convite eterno a perder-me no seu fruto proibido.

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 14:04
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Segunda-feira, 21 de Março de 2011

Juno Temple junta-se a The Dark Knight Rises

A jovem promessa inglesa Juno Temple foi oficialmente confirmada como parte do elenco de The Dark Knight Rises, o culminar da trilogia dirigida por Christopher Nolan sobre o Homem-Morcego.

 

Actriz de 21 anos, Temple saltou para a ribalta com o seu desempenho em Atonement seguindo-se depois o sucesso em produções como Dirty Girl ou o esperado The Three Musketeers. Junta-se a um elenco já de si estelar num papel por confirmar mas que aponta na direcção de uma jovem que acabará por se cruzar com o perseguido Batman nas ruas de New Orleans.

 

The Dark Knight Rises prepara-se para começar as suas filmagens e apresenta um elenco repleto de nomes sonantes que acompanham a Christian Bale, que veste pela terceira e talvez última vez, o Cavaleiro das Trevas. A francesa Marion Cottillard, o americano Joseph Gordon-Levitt, o inglês Tom Hardy e a também norte-americana Anne Hathaway são as caras novas de uma saga que já conta com as figuras de Michael Caine, Morgan Freeman e Gary Oldman.

 

Entre a imensa expectativa levantada pelos fãs, fontes oficiais confirmaram que Gordon-Levitt encarná o papel de Alberto Falcone, filho do mafioso Carmine Falcone (representado no filme inaugural da saga, Batman Begins, por Tom Wilkinson) e conhecido dos leitores dos comics como Holiday Killer, assassino em série dos clãs mafiosos rivais da familia Falcone. Uma indicação de que o próximo filme continuará a mover-se no realismo do submundo de Gotham mas sem perder conexão com as obras anteriores da trilogia.

 

 

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 15:04
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Quinta-feira, 17 de Março de 2011

Tom Hanks protagoniza filme sobre piratas somalis

Apesar de ter entrado numa fase mais tranquila da sua carreira, Tom Hanks continua a ser um dos actores preferidos de Hollywood. Do público, da critica e dos productores. E um nome extremamente cobiçado.

 

Por isso mesmo a Sony conseguiu uma importante vitória ao anunciar Hanks como o protagonista sobre o drama vivido em 2009 no Maersk Alabama, barco de carga atacado por piratas na costa da Somália. O actor encarnará o comandante do navio, Richard Philips, que se ofereceu aos piratas como prisioneiro em troca de que estes libertassem a restante tripulação. Durante três dias Philips foi mantido pelos piratas no seu próprio navio até que a marinha norte-americana interviu e o resgatou são e salvo.

 

O drama será produzido por Kevin Spacey e Scott Rudin, a mesma equipa que esteve por detrás de Social Network, e inspira-se directamente no livro do próprio Philips A Captain's Story: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea, que deu origem ao guião de Bill Ray.

 

Está previsto que a rodagem arranque no próximo Verão no sul dos Estados Unidos depois de Hanks terminar a sua participação em Extremely Loud, Incredibly Close, drama sobre os efeitos do 11 de Setembro na vida de um adolescente e um dos grandes candidatos aos próximos Óscares.

 

 

 

 

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 11:14
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Terça-feira, 15 de Março de 2011

A subtil delicadeza lubitschiana

Foi Billy Wilder quem disse de Ernst Lubitsch que os seus filmes tinham sempre portas que se abriam, portas que se fechavam e portas que embatiam com estrondo. Essa analogia da passagem de testemunho, desse caminho inevitável que o simbolismo das portas apresenta, espelha também a subtileza que sempre pautou a obra daquele que foi um dos cineastas mais importantes da primeira geração de ouro do cinema. Wilder conhecia-o bem, foi o seu argumentista durante anos, e o "lubitsch touch", esse toque de súbtil genialidade tornou-se, inevitavelmente, o seu santo e senha. Poucos filmes do cineasta alemão encaixam tão bem nessa troca de simbolismos, nessa calma tempestade interna como The Shop Around the Corner.

 

 

 

O mundo descubriu James Stewart com Frank Capra. Mas depois de dois filmes únicos (que se confirmariam no terceiro e mais fascinante de todos eles, It´s a Wonderful Life), havia um lado cómico e subtil do grande actor do cinema americano que ainda não tinha sido devidamente explorado. Até chegar Lubitsch. O realizador germânico tinha sido - com von Stenberg - o grande arquitecto do cinema alemão na sua transição entre o mudo e o sonoro, e em Hollywood dedicou-se a fazer o que mais ninguém sabia. Comédias ácidas, tocantes e profundamente criticas da sociedade mercantil que já tinha tomado definitivamente de assalto a sua adoptiva América. Trouxe essa mentalidade burguesia e comercial do centro da Europa e americanizou-a. Mas sem cortar com as origens. Alguns dos seus grandes filmes foram verdadeiras pastorais americanas (Heavan can Wait, o último talvez), mas sempre que podia, voltava à suas origens.

Em 1940 ambos - Stewart e Lubitsch - vinham de um grande ano. Jimmy tinha chegada ao mais alto com o seu inesquecivel Jefferson Smith em Mr Smith Goes to Washington. Perdeu o Óscar para Robert Donat, segundo se disse, porque Hollywood quis vetar um filme tão politicamente pronunciado. Mas o sentimento de injustiça foi tal que no ano seguinte, por um papel quase secundário e de menor estofo, lá lhe deram a sua única estatueta dourada. Já Lubitsch tinha rodado com a sua amiga - um dos poucos realizadores considerados como tal pela "Divina" - Greta Garbo, o imperdível Ninotchka, o último suspiro de grandeza da actriz sueca. Ambos queriam algo menos exigente e a peça hungara Parfumerie permitia a Stewart voltar ao mundo das lojas (a sua origem familiar) e a Lubitsch voltar à sua Europa central, de onde tinha saído há já quase 20 anos. O filme juntou ainda a estrela ascendente (nunca confirmada) Margaret Sullavan e um notável elenco de secundários, condição obrigatória em qualquer filme lubitschiano. Sullavan era uma escolha obrigatória já que se tinha tornado não só a parceira habitual de Stewart mas também a sua amante proibida numa era onde as aparências importavam, mas não tanto.

 

Essa quimica entre Sullavan e Stewart funcionou perfeitamente nas mãos de Lubitsch.

Ambos são trabalhadores numa pequena loja de Budapeste e ambos estão apaixonados um pelo outro, sem o saberem. Trocam correspondência com "amigos" invisiveis e tropeçam nas mais caricatas circunstâncias até que se dão conta que a aninimosidade do dia a dia desaparece quando o amor os decide juntar definitivamente. Sem meias, numa das cenas mais poéticas da filmografia de Lubitsch, Stewart declara-se a Sullavan e deixa para trás a loja, gerida pelo inefável Hugo Matuzechek, e os complots urdidos na mais profunda frivolidade - outro tema tão lubitschiano - por Vadas, o homem que levanta suspeitas sobre tudo e sobre todos, incluindo a fidelidade da própria sra Matuzechek.

Nesse pequeno micro-cosmos laboral, Lubbitsch destroza com subtileza as ideias pré-concebidas do casamento, das relações sociais e da bondade humana. Concede-nos um happy-ending, quase forçosamente diriamos, mas sempre com condicionantes. Sempre com avisos. Sempre com antecedentes. Em The Shop Around the Corner a bonda existe mas atravessa caminhos de tal forma tortuosos que muitos espectadores pensarão se vale realmente a pena seguir em frente. É uma barreira que Lubistch não perdoa e que transmite em cada olhar desesperado de Stewart e Sullavan quando começam a suspeitar do afastamento progressivo dos seus amores invisiveis. É precisamente quando a letra se começa a descanecer que o olhar começa a triunfar e a realidade diária, tumultosas, conflictiva ganha ao romantismo e hermetismo dos amantes por correspondência. Esse contacto fisico cada vez mais forçoso - e aceite - transparece também a primeira tensão sexual do filme,  quando ele já sabe quem é ela (Klara Novak...Novak como Kim...) mas ela não sabe ainda nada dele. O primeiro desejo de toque e sentimento tanto em Klara como em Alfred começa a ganhar força. Mas o sexo em Lubitsch não será o sexo em Wilder. O alemão guarda as formas de outra era onde o austriaco explora as idiossincrasias do seu presente (e usará Monroe como isca perfeita) e portanto até aí o toque lubitschiano é fundamental para manter a tensão (narrativa, emotiva, sexual) até ao frame final.

 

 

 

The Shop Around the Corner é naturalmente um dos grandes filmes do cinema americano mas á época passou ligeiramente desapercebido. A indústria nunca levou muito a sério as comédias cinicas do europeu e em tempos de guerra (o filme estreou em finais de 1940) o Mundo estava mais preocupado com outras realidades para deixar-se seduzir por esta pequena feira de vaidades. Mas olhando para trás torna-se inevitavel ver e rever cada sequência, cada bater de portas, cada suspiro, cada segredo contado em voz baixa...cada palpitar do coração de uma loja que é também o palpitar do coração da vida mesma...


Autor Miguel Lourenço Pereira às 11:11
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Sexta-feira, 11 de Março de 2011

A Serbian Movie: o perigoso jogo da justiça!

Quando a justiça se mete em campo alheio o mais normal é que resulte em desastre. Não é nem a primeira vez nem será, lamentavelmente, a última. A Arte - seja qual seja a sua expressão - tem uma linguagem própria que não ultrapassa, em nenhum caso, os limites da própria lei. Então porque está tão interessada essa mesma lei em mexer com os designios da arte? Quando um organizador de um certame é apresentado à justiça como um criminal por exibir um filme polémico que explora realidades que existem e que estão penalizadas em muitos países, chegamos a um extremo de loucura onde tudo deixa de fazer muito sentido.

 

 

 

A Serbian Movie não é um producto novo.

Toca em campos extremos mas não propriamente inéditos e o que explora é mais o filão mediático de uma realidade que muitos teimam em esconder mas que está aí e é bem real: o "newborn" porn, o incesto, a pedofilia infantil, os "snuffmovies" estão aí para quem os quiser ver, legal ou ilegalmente. Todos anos vários projectos dentro do porno ou do cinema underground lidam com esses temas com a mão da lei sempre a tentar passar-lhes por cima. Afinal a sociedade ocidental tão democrática e liberal ainda não entendeu que uma simulação não é real e que por se filmar um determinado tema não quer dizer (muitas vezes é até o oposto) que os seus actores prediquem esses valores.

A Serbian Movie é o novo Saló, o novo Clockwork Orange, o novo Empire of the Senses, o novo Lolita, o novo Pretty Baby, o novo Extasis, ... Com uma diferença particular: é um mau filme.

Cinematograficamente a produção do cineasta sérvio Spasojevic deixa muito a desejar.

Parte de uma premissa já vista que se centra essencialmente num homem, um realizador de filmes porno determinado a deixar o meio que é convencido por um amigo a realizar um último filme (com qualidade) e que acaba envolto num meio degradante onde o sexo e a morte caminham perigosamente lado a lado até chegar a um final tremendamente chocante. Mas a técnica é rudimentar, o ritmo aborrecido e algumas das sequências acabam por se tornar previsiveis. Falando apenas de cinema e nunca falariamos de A Serbian Movie. Falando de temas polémicos e a sua inclusão torna-se obrigatória. Saló era polémico - foi provavelmente o primeiro filme a explorar a nudez adolescente sem receios - mas bem feito. Os filmes de Kubrick um pedaço de evolução cinematográfica, e até as obras de Malle e Oshima tinham um valor artistico evidente. Todos eles tiveram a lei às pernas, foram proibidos em vários paises durante muito tempo e ainda hoje ter o filme numa colecção privada inspira olhares reprovadores de visitas mais conservadoras. A sociedade é assim, gosta de funcionar sob a premissa se não vejo não tenho porque assumir que existe. Mas, curiosamente, todos esses filmes se inspiravam em temas reais. A Serbian Movie, tristemente, também.

 

Por muito repugnante que seja a simulação de uma cena de sexo com um recém-nascido ou um pré-adolescente, a verdade é que A Serbian Movie não o pratica. As sequências são - ao contrário da maioria do cinema porno - falsas, utilizando num primeiro caso um boneco mal caracterizado e no segundo um exercicio de montagem hábil. Por muito triste que seja a realidade dos "snuff" ninguém morreu realmente na rodagem do filme que se saiba ao contrário de muito do producto real que circula pela rede. Mas a intenção parece ser mais penalizadora do que a realidade e desde que chegou à luz do dia a justiça, de vários paises, tem tentado fazer do filme um exemplo. Não podendo - ou conseguindo - punir o autor, dedicou-se a punir os exibidores.

Em Espanha os problemas começaram com o festival de San Sebastian que pretendia exibir o filme mas foi proibido. Sitges, um dos mais prestigiosos festivais da Europa de cinema de terror, foi mais longe e mostrou ao público o que ninguém queria ver. Resultado? O seu director, o espanhol Angel Sala, foi acusado pela justiça do país vizinho de incitamento à pornografia infantil e à pedofilia. E pode receber um duro correctivo judicial.

O que não se percebe em tudo isto é o papel da justiça em algo que sempre será incontrável: a liberdade artistica.

A pintura medieval e renascentista, a literatura clássica e dos séculos XIX e XX sempre exploraram a violência extrema e a sexualidade juvenil de forma mais ou menos clara. A literatura principalmente, talvez por maior liberdade criativa, foi mais longe que todas as outras artes e não é dificil aos mais interessados encontrar exemplos que inspiram filmes como Salo ou A Serbian Movie. Cinematograficamente os exemplos são poucos porque os filmes são caros de fazer e têm de ser exibidos e productores e distribuidores habitualmente não gostam de correr riscos. Sala correu. Dorminsky também. O primeiro está em sarilhos, o segundo parece tranquilo. Mas só o facto de um filme levantar tanta celeuma leva a perguntar-nos como é que a justiça se arroga o direito a proibir a liberdade artistica que não causa nenhum dano a terceiros. O politicamente correcto tornou-se o santo e senha dos dias de hoje e nem a sugestão se livra do castigo. Autores como Jack Sturges, David Hamilton, Sara Manttle e Nabokov publicitários de revistas de moda como a Elle ou empresas como a Benetton e realizadores como Pasolini ou Spasojevic são vistos pela sociedade como o problema, quando apenas servem de veículo para algo que é real e foge do controlo daqueles que acreditam que tudo pode ser legislado e levado a tribunal. A triste realidade diz-nos que não, que isso não é assim. Mas tem o cinema culpa de o explicar a uma audiência maior? 

 

 

 

À custa desta histeria social, A Serbian Movie vai tornar-se forçosamente num filme de culto. Terá edições especiais em dvd que esgotarão porque muitos quererão ver o que aparentemente é tão proibido. Cinéfilos curiosos ou espectadores normais comprarão o filme provavelmente mais depressa que pedófilos ou adeptos da violência extrema. O poder dos Media garantiu ao filme que sobreviverá ao tempo quando a sua qualidade intrinseca nunca o permitira. A justiça - a espanhola neste caso - na sua corrida para defender a moral e os bons costumes conseguiu o efeito contrário. Despertar a curiosidade. E o Ser Humano continua a ter especial predilecção pela maçã do pecado. Especialmente se está podre.

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 14:58
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Quarta-feira, 9 de Março de 2011

Winter´s Bone - A América Nua

Hollywood especializou-se em vender uma imagem dourada irreal da América e passou décadas a retirar dividendos desses happy-endings, dos self-made men e do sucesso do fenomeno de emigração na busca de uma vida melhor. Como as pedras do muro de Berlim, o verniz dessa falsa imagem também estalou. Enquanto alguns continuam a tentar tapar os buracos dessa América profunda alguns bravos começama  tentar perceber até que ponto a América está nua na alma e no sangue. Winter´s Bone é uma viagem a essa nudeza emocional de um país sem rumo e destino.

 

 

 

Há filmes que só deviam ser vistos em curtas sessões de madrugada numa sala vazia ou no silêncio absoluto de um escritório pendente de cada frame. São filmes que estão para analisar a alma mais do que para desafiar o tempo e que sabem que a sua existência não ficará para a posteridade senão como uma curiosa análise sociológica de uma era que já passou. Mas os poucos que encaram essa inevitabilidade oferecem essa dimensão moral do agora que vale muito mais que tantas obras bigger than life.

Winter´s Bone começa a ver-se pelo final. Pelo final tenso e angustiante que Debra Granik - a audaz cineasta disposta a deixar a nu a crua realidade da vida do coração da América - nos prepara. A América da cosmopolita Nova Iorque, da soleada Miami, da relada Los Angeles ou da misteriosa Nova Orleães é um fantasma no meio da crua e dura realidade. A maioria dos americanos está mais perto do abismo do que se imagina. A cultura white trash, sem dinheiro para saúde, para uma casa, para um futuro, começa a saltar a nu para os ecrãs de cinema fora dos esteriótipos culturais das minorias emigrantes. Já não são só os hispânicos, negros ou descendentes de irlandeses e italianos os bodes expiatórios desse retrato cru e nu da América perdida. São brancos, são religiosos, são trabalhadores. E são escravos dessa vida de pequenos detalhes em que o dólar - ou a falta dele - decide tudo. A vida de Ree (para quê apelidos numa terra onde o silêncio é de ouro) e dos seus depende desse dólar ausente. O dólar que Jessup foi procurar pelas vias negras em que a América mergulhou. Para não voltar.

 

Há mais no filme de Granik do que não é dito do que aquilo que se sabe. O final - esse triste conto de fadas cinzento e seco - é um fim de silêncios e suspiros de um tornado que nunca amaina. A morte é mais do que inevitável nestes lados do país. O mesmo que elege os Bush do passado, presente e quiçás do futuro. O mesmo que envia para a morte os voluntariosos soldados dessa América guerreira lá fora e suicida bem lá dentro. O mesmo canto da América que cala para não sofrer a duras penas. Ree não constesta nunca o seu entorno. Aceita-o como é, ela também é parte dela, conscientemente até. Ela só quer o dólar - o corpo do pai desaparecido e morto, e ela sempre o sabe - para continuar na sua luta silenciosa. Nada mais. É o querer, mais do que o falar, que a leva a conhecer o rosto da morte. E é o apenas querer, mais do que sobretudo falar, que lhe garante que sobreviverá.

Nessa viagem pelas brumas de um país diametralmente oposto à imagem vendida até à exaustão - como se de uma aldeia distante do império Romano na sua época de glória se tratasse - que ganha forças o contorno de uma adolescente chamada a ser mulher antes do tempo. Demasiado antes do tempo. Mulher não só nas lides domésticas, no trato com os irmãos e a mãe doente. Mulher também como cabeça de uma familia à beira da catástrofe, capaz de sentir na pele as agruras do golpe ao mesmo tempo que anseia por um momento de desconexão. E mulher como o corpo escondido no enorme anorak mas que já é capaz de despertar os sentimentos do entorno masculino que a rodeia, como lobos ferozes, pronto a arrancar a parte que lhes toca. Contra essa inevitabilidade ela procura esquecer que é mulher num mundo onde o homem supostamente lidera apenas para descubrir que os homens ali estão para morrer e as mulheres para os enterrar e continuar o serviço. Ou para desenterrar o que ninguém deve ver. Só ela, como mulher, pode entrar nesse mundo. Aos outros, aos Teardrop, o titulo cocainomano e sepulcral, o destino é outro. O que não se diz. Apenas se intui. E já basta.

 

 

 

Imensa Jennifer Lawrence, uma beleza também ela profundamente americana, dessa América genuina que escapa aos esteriótipos dos estúdios e das criações plásticas e virtuais que dominam a imprensa, a sua Ree é uma personagem entranhável capaz de seguir o seu caminho deixando bem vincadas as suas pegadas no chão. Lawrence reafirma-se como uma actriz com uma projecção imensa e um nome a seguir por tantos motivos. John Hawkes, qual personagem conradiano, cala mais do que o que diz e com isso faz tudo o que há a fazer. É o alter-ego negro de uma narrativa rasgada de um país que está nu, com as mãos levantadas para o céu e um caminho de pedras por percorrer. Um caminho que a maioria continua a querer pintar de outra cor...

 

Classificação -

 

Realizador - Debra Granik

Elenco - Jennifer Lawrence, John Hawkes, Laureen Sweetser

Productora - Anonymous Content

Classificação - m/12

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Autor Miguel Lourenço Pereira às 14:25
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