Sou avô desta cineblogosfera. Daqueles parentes antigos que se encontram num canto da arvore genealógica em tempos imemoriais. Quando arranquei nestas coisas, na companhia de dois bons amigos, os blogs eram absolutamente desconhecidos para a maioria dos cibernautas. Em oito anos passaram-se muitas coisas, o espaço virtual evoluiu, as redes sociais mudaram a vida de muitos e um blog tornou-se algo tão fácil de se gerir como fazer um prato de massa. Em quase uma década vi muitas coisas e assisti a situações surpreendentes. O que ainda não consegui entender é o ritmo competitivo que se começa a pulsar de forma preocupante na cineblogosfera (e ficamos por aqui) portuguesa.
Este vosso blog, o Cinema, está nomeado aos prémios TCN na categoria de Melhor Blog Individual.
É uma iniciativa interessante, divertida até, mas que corre sério risco de ser tornar em mais um espelho dessa constante guerra de auto-promoção em que se tornou um fenómeno que conheço melhor do que a maioria. Trata-se de um prémio com background, com muito trabalho de organização por detrás e que merece todo o respeito e apoio. Uma iniciativa de união que facilmente se transforma em guerrilha. O Cinema foi nomeado sem ter feito campanha, sem ter nomeado ninguém e anunciando que não vai votar em nenhuma das categorias. E espero sinceramente não receber nenhum voto. O motivo é simples: não me considero digno.
Este blog é um projecto muito pessoal distanciado totalmente do fenómeno de popularidade que foi o Hollywood há cinco anos atrás, um projecto que levou à publicação do primeiro livro de cinema originado na cineblogosfera. O Cinema é algo tão pessoal que não se rege por critérios editoriais, compromissos de periodicidade e, sobretudo, não se importa demasiado com o leitor. Não há passatempos, actividades, convites, promoções e auto-promoções. É um espaço de desabafo onde escrevo menos do que queria e que tem estado abandonado por compromissos profissionais inadiáveis. E no entanto houve leitores suficientes - e não são muitos os que por aqui passam- que consideraram que era um digno nomeado e votaram no projecto. Agradeço-lhes mas, como diria o outro, não, obrigado.
Não por despeito à magnifica organização do evento. Mas porque entendo que estes prémios estão a perder o sentido que deveriam ter e começam a abrir passo ao outro lado do espelho, ao lado mais triste da nossa blogosfera.
Em Portugal havia quatro blogs de cinema quando entrei nestas andanças em 2003. Hoje devem existir mais de uma boa centena, uns de melhor outros de pior qualidade, uns mais activos que outros, uns mais virados ao futuro outros pensados no passado. Correntes distintas, mentalidades distintas, propósitos distintos. Todos válidos até ao ponto em que uns começam a tropeçar nos outros para chegar a um panteão que não existe. Vencer um prémio TCN o que é? Com todo o respeito para os seus organizadores, um bom momento de diversão no máximo dos máximos.
Não transforma um blog em algo melhor, em algo mais popular, em algo mais digno. Não faz do seu autor/autores melhores e mais capacitados críticos ou bloggers. Isso é impossível, mais do que isso, é infantil.
Vejo nestes dias pós-nomeações um ritmo frenético que relembra as reuniões em Los Angeles ou Nova Iorque no mês que medeia os nomeados à entrega dos Óscares. Aí disputam-se prémios no valor de milhões, prémios que definem carreiras, prémios que têm um prestigio próprio. O dinheiro que os Óscares movem é parte do ritmo industrial que tomou o cinema americano. Nada disso faz sentido num prémio online onde o prazer do trabalho bem feito deveria ser a única recompensa. Não vou nem posso criticar blogs por criarem sites mais depressa virados para a auto-promoção com futuros autores/críticos/jornalistas com iniciativas criadas ao milímetro para captar o público, porque eu fui o primeiro a fazê-lo há uns longínquos seis anos. O que não entendo é essa sede de protagonismo que transforma uma divertida campanha colectiva de bom humor num duelo onde não se tomam prisioneiros. Os blogs transformam-se em trincheiras, o voto é pedido como se do maná dos céus se tratasse e, mais triste do que isso, nos submundos virtuais das redes sociais, dos fóruns e chats trocam-se acusações difíceis de provar, sujam-se nomes que não têm nada a ver com esta politica de guerrilha e estabelece-se uma espécie de inteligentzia superior capaz de dictaminar gostos alheios. A ideia de expressões como "nomeado digno", "compadrios", "injustiçados" transporta-nos para uma quinta dimensão que não faz sentido neste espírito colectivo que começa a faltar de forma preocupante entre a comunidade. Quando o voto está aberto a tudo e todos, como podem existir injustiças? A voz do voto falou e a não ser que se esteja acusando a organização do evento de seleccionar nomeados, alguns autores têm de entender que, da mesma forma que dificilmente Shame ou Take Shelter serão nomeados aos próximos Óscares, também há blogs que podem ser do seu agrado que sejam preteridos por outros de maior agrado de quem teve o trabalho (ao contrário do que se passa comigo) de nomear.
Como se de algo realmente importante se tratasse, os prémios TCN, e imagino que os seus autores não o tenham imaginado nunca, começam a ser um pretexto para ajustes de contas, lavar roupa suja, troca de acusações e uma politica de exclusão quando deveria ser todo o contrário.
Até ao final do ano quem visita blogs de cinema vai ser inundado com essas petições, umas mais bem humoradas que outras, umas mais genuínas que outras, umas com mais segundas intenções que outras. Haverá blogs que tomem os prémios com humor, outros que façam disso o seu santo Graal como se o ar lhes faltasse. Capazes de entrar em conflicto com os outros nomeados e talvez, como Bill Murray, fazer birrinha quando se anunciem os hipotéticos vencedores numa cerimónia aonde não estarei mas da qual imagino o tenso e frio ambiente que se irá respirar. O Cinema aplaude a iniciativa, como todas, mas não vai entrar nessa espiral porque quando algo se transforma numa arma de arremesso, perde toda a graça que possa vir a ter. Não acredito que, se o Cinema ganhasse, fosse melhor do que o CineRoad, Da Casa Amarela, Keyser Soze´s Place, O Homem que Sabia Demasiado, O Rato Cinéfilo, Um dia Fui ao Cinema e o veterano Royale With Cheese. Nem que seja pior por ficar em último. E não quero acreditar que algum dos nomeados pense diferente. Espero que esse clima de diversão que uniu os primeiros blogs de cinema na Academia de Blogs de Cinema em 2004 não tenha sido totalmente substituído por essa fome de protagonismo, essa ânsia de glória que transforma um espaço de diálogo, desabafo, criação numa ferramenta infantil de reivindicação de algo tão subjectivo como pode ser qualquer prémio.
PS: Aparentemente o facto de eu ser "avô" da cineblogosfera (com gente como o JB Martins ou o Nuno Reis) incomoda algumas pessoas. Que tenha estado por detrás de um blog há uns anos, de uma Academia de Cinema na web pioneira e por ter escrito um livro também. Que tenha apontado uma realidade que me preocupa e que, pelo feedback dos leitores do Cinema - que não são muitos - é real, também. Este texto, escrito de forma respeituosa e expressando apenas uma opinião, foi suficiente para que o organizador dos TCN, no seu blog, publicasse um texto bastante critico (para dizê-lo de forma suave) com a minha opinião. Ele tem todo o direito á sua como eu á minha e não vou entrar em discussões públicas. Apenas reforço a minha ideia, mais do que nunca, porque a atitude defensiva de alguns cineblogers a confirma. E reforço a natureza de um texto pacifico e tranquilo que parece que ofendeu a quem não era atacado, que magoou a quem não era mencionado e que tem como simples objectivo alertar para uma realidade que não é do meu agrado. Como imagino que quem tem a mais minima pachorra de vir aqui de vez em quando seja minimante inteligente, deixo o resto á vossa consideração.
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