Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013

Por uma definição justa de pirataria!

Este artigo foi assinado por um grupo de bloggers cinéfilos quando tomaram conhecimento que o excelente weblog My One Thousand Movies,, do autor Francisco Rocha, foi fechado pelo Google no passado mês acusado de pirataria. É uma declaração de intensões daqueles que defendem que o cinema é uma propriedade colectiva, como arte, e que a divulgação da cinefilia não devia ser impedido sob base de uma acusação que não acreditamos que se adeque à realidade. Muitos dos filmes que estavam nesse site eram obras únicas, impossíveis de ser adquiridas no mercado internacional de dvds, pedaços de história que assim se perdem para uma audiência que ganha com espaços como este uma zona de conhecimento e discussão sobre a 7º Arte!

 

"A pirataria é um mal que paira sobre a Humanidade. Todas as semanas, navios de praticamente todas as nacionalidades correm grandes riscos de serem abordados por piratas somalis nos Mares Arábico e Índico. Enquanto isso é um atentado à integridade física de pessoas e um roubo de produtos físicos - e a também antiga contrafacção de artigos coloca em risco a vida ou a saúde das pessoas - os governos e entidades mais ou menos oficiais preocupam-se principalmente com um tipo de pirataria bem mais ofensivo ou perigoso: a democratização do conhecimento cultural, através da partilha de conteúdos digitais.


Os conteúdos digitais foram uma invenção da indústria. Dando variedade de formatos e portabilidade, tencionavam vender mais, mais depressa e com maior lucro. E tal como no tempo dos gravadores de VHS, os consumidores contornaram as regras. Se há vinte anos as revistas apoiavam o consumidor fornecendo capas e códigos para gravar à hora certa, agora são os próprios fornecedores de serviços televisivos a permitir a gravação e visionamento posterior com um mínimo de esforço. E isso é legal porque, apesar de os fabricantes de conteúdo não gostarem, como são empresas que o fazem pagam impostos, continua a ser negócio. Os consumidores agradecem o serviço prestado.


Vender DVD contrafeitos é ilegal. Porque nesse cenário não ganha quem faz o conteúdo, nem quem o vende paga impostos sobre o seu trabalho. O consumidor agradece pagar menos do que por um bilhete de cinema ou uma cópia oficial e, como os tempos estão difíceis, já sente que é justo cortar numa despesa “supérflua” como é o entretenimento. Disponibilizar conteúdos online equivale ao anterior porque, atingindo determinada escala, começa a arrecadar quantias consideráveis de dinheiro com a publicidade. E se quem os coloca online não estiver a ter lucro, nem a roubar a ninguém?


Esse era o caso do blog My One Thousand Movies. Os três mil filmes que tinha eram clássicos que não se encontram à venda nem passam na televisão. Pretendiam dar a conhecer o património cinematográfico da humanidade. Serviam para descobrir cineastas esquecidos e obras de culto, mas com pouca resolução para que ninguém se sentisse tentado a ficar com essa versão em vez de se dedicar a procurar no mercado convencional de importação uma versão melhor. Outra vantagem é que no My One Thousand Movies todos os filmes tinham legendas em português ou numa língua mais ou menos compreensível. Na importação não.


Dia 16 de Dezembro foi fechado pela Google sem qualquer aviso por incentivo à pirataria. Estamos a falar de filmes quase impossíveis de encontrar no mercado, que em nada rivalizavam com a versão comprada, se existisse uma, e que tinham no máximo uma centena de downloads provenientes de todo o mundo, não apenas de Portugal. O que o My One Thousand Movies fazia era complementar (ou substituir) a missão da deficiente televisão pública de educar cinéfilos. Muitos bloggers recorreram a este repositório para rever um título acarinhado, ou, a partir do filme e da pequena resenha que o acompanhava, fazerem publicações com as quais muitas outras centenas de pessoas ficaram com vontade de descobrir um cinema marginal e esquecido.


Isto não é pirataria, é serviço público, e é preciso (re)definir o enquadramento legal adequado. Se alguém errou no meio disto tudo foram as distribuidoras que não viram interesse em comercializar os filmes. Ninguém o pode ver porque não compensa comprar os direitos e fabricar para pouca gente?


Sugeríamos que houvesse um videoclube online no qual, por um valor simbólico, se pudesse ver o filme contribuindo para a distribuidora. A distribuidora não teria encargos com a manufactura de cópias físicas que ficariam a ocupar espaço em armazém. Os consumidores exigentes encontrariam o que queriam imediatamente sem remexer em caixotes de promoções nas superfícies comerciais. Os retalhistas não estão interessados em ter uma cópia única de milhares de filmes que poderão nunca vir a comercializar, mas estariam interessados em vender cartões pré-pagos de acesso a esse serviço, como fazem para as consolas. Se o preço fosse suficientemente baixo toda a gente poderia espreitar e talvez descobrir algo único.

 

Enquanto este tipo de serviço não existir, estaremos sempre dependentes da boa vontade, dedicação e cultura de pessoas como o autor do MOTM. Mesmo que achem que isso vai contra a lei. De todos nós, obrigado.


Signatários

Ana Sofia Santos Cine31 / Girl on Film
André Marques Blockusters
António Tavares de Figueiredo Matinée Portuense
David Martins Cine31
Francisco Rocha My Two Thousand Movies
Gabriel Martins Alternative Prison
Inês Moreira Santos Hoje Vi(vi) um filme / Espalha-Factos
Jorge Rodrigues Dial P for Popcorn
Jorge Teixeira Caminho Largo
Luís Mendonça CINEdrio
Manuel Reis Cenas Aleatórias / TV Dependente

Miguel Lourenço Pereira

Nuno Reis Antestreia
Pedro Afonso Laxante Cultural
Rita Santos Not a Film Critic
Samuel Andrade Keyzer Soze's Place / O Síndroma do Vinagre
Victor Afonso O Homem que Sabia Demasiado"


Autor Miguel Lourenço Pereira às 00:30
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5 comentários:
De Jorge Teixeira a 7 de Janeiro de 2013 às 11:49
Miguel, é Francisco Rocha e não Silva. Pequena correção apenas. De resto, excelente iniciativa esta. Já agora, não vens na carta original como um signatário, pretendes ainda assim que te coloquemos? (penso colocar-te no meu espaço, se assim não te importares).

A propósito tenho saudades deste espaço com mais regularidade, pelo que pergunto - o blogue está apenas a passar uma fase ou é relativamente definitivo o seu estado actual?

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo (http://caminholargo.blogspot.pt/)


De Miguel Lourenço Pereira a 7 de Janeiro de 2013 às 21:42
Obrigado Jorge, que erro!

Sim, só soube ontem da iniciativa e o Chico disse-me que já estavam fechados os signatários, mas eu estou totalmente dentro.

É uma fase que depende de outros projectos, futebolisticos, que me roubam a maior parte do tempo mas não equaciono um reboot num modelo distinto.

um abraço


De Rafael Fernandes a 14 de Janeiro de 2013 às 15:57
A minha definição de pirata/pirataria sempre foi de alguém que faz dinheiro com a obra dos outros. O que não era de todo este caso. Continuo a defender os downloads, legais ou não, de quem pretende apenas consumir o produto, e não fazer dinheiro com ele. Se não fosse a pirataria não tinha 5% do conhecimento de cinema ou música que tenho. Como eu, muitos da minha geração. E a verdade é essa. A "pirataria" democratiza a arte. E isso é uma coisa boa.. Esta decisão da google é lamentável.


De Miguel Lourenço Pereira a 15 de Janeiro de 2013 às 00:04
Para mim o exemplo perfeito é o mesmo de sempre. Os downloads são o equivalente aos VHS que gravavam os filmes na TV e as cassetes que gravavam os singles na rádio. Ninguém lhes chamava pirataria então!


De Pedro Afonso a 29 de Março de 2013 às 23:20
Venho por este meio divulgar o meu novo blog. Um blog sobre cinema que divulga todos os trailers do filmes que irão estreiar em breve no cinema.

http://tugatrailers.wordpress.com


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