Quando o cinema italiano ainda era sinónimo de neo-realismo puro, a sua visão trouxe uma visão onírica e satirica a um país com um condão especial para rir-se de si mesmo. Sempre foi um productor de mulheres, com um olhar agudo para entender o poder da sexualidade num meio tão visual como o cinema. Mas foi também um vanguardista sem receios, o que lhe valeu tantos sucessos como dissabores. O cinema da segunda metade do século XX nunca teria sido o mesmo sem Dino de Laurentiis.
Da sua terra natal, Torre Anunziata, avista-se a imensidão do Vesuvio. O degredo urbano de Napoli. E a beleza eterna de Capri e toda a baía sorrentina. Nasceu e cresceu com essa imagem tripla que lhe deu a sensação de que a vida nunca é pintada a preto e branco. Passou toda a sua carreira a explorar as tonalidades de cinzento que foi encontrando no seu caminho. Podia ter sido um filho da "pasta", negócio da empresa familiar que tinha tudo preparado para tê-lo como sucessor. Mas o irromper da II Guerra Mundial atirou-o para a crueza da vida para lá do ritmo frenético do circumvesuviano. Por essa altura decidiu-se a estudar cinema e a guerra ensinou-lhe mais do que podia imaginar sobre a natureza do seu povo. Dos seus sonhos e expectativas. E da sua alma. Uma imagem tão distante do olhar cru de Rossellini e De Sicca que no pós-guerra tomou a determinação de mostrar ao mundo a "outra Itália". Riso Amargo foi o primeiro golpe na imagem monótona do cinzentismo moralista do neo-realismo. Não seria o último. A sua associação com Carlo Ponti, outro napolitano e marido de Sophia Loren, e com Federico Fellini marcou a pauta do cinema italiano dos anos 50. La Strada e La Notte di Cabiria resumiram o seu espirito ácido e despreocupado. Um apaixonado pelas mulheres. Sacou o melhor da imensa Silvia Mangano, por quem se apaixonou perdidamente a ponto de casar-se com ela após as rodagens de Riso Amargo. Um casamento que durou 40 anos mas que não o impediu nunca de flirtear com as protagonistas, escolhidas a dedo, dos seus projectos mais pessoais. Desejou ardentemente a Jane Fonda do ousado Barbarella, a frágil Jessica Lange do seu pessoal King Kong ou a Bo "10" Derek no pouco conhecido Orca. Italiano até ao fim, a sua mudança para os EUA seguiu-se a uma série de investimentos falhados que marcaram também eles o final da idade de ouro do cinema italiano.
Nos States recuperou a fórmula mais ácida da sua filmografia e deixou-se em mãos de jovens cineastas ambiciosos como Roger Vadim (Barbarella), Sidney Pollack (The Three Days of the Condor), Sidney Lumet (Serpico), David Lynch (Blue Velvet) ou John Milius (Conan, the Barbarian) que lhe granjearam os maiores sucessos da sua carreira. Conhecido como um productor respeituoso para com os artesãos, tornou-se numa figura de culto para o cinema de baixo orçamento, como o que preparou a ascensão de Hannibal Lecter (primeiro com Manhunter e mais tarde com as sequelas de The Silence of the Lambs, único filme da saga que não produziu) ou algumas das principais obras de Stephen King.
A sua visão do cinema sempre foi pragmática. Fugiu do exibicionismo comercial (foi considerado oportunista pela insistência em aproveitar a beleza etéra de uma Fonda surpreendentemente despedida numa era onde o nu começava a quebrar tabus) e do cinema excessivamente intelectual. A sua missão era o entretenimento com sentido e sempre que podia voltava a ser baía natal para tomar o pulso do ritmo da vida da Itália que nunca esqueceu. Ao contrário da dinastia Brocolli, os productores da saga Bond, a sua relação com o dinheiro nunca foi a base do trabalho. Unido sentilmente ao seu Napoli perdeu fortunas para salvar o clube da sua infância e o seu nome continua a ser reverenciado a cada dia nas ruelas à volta do San Paolo que actualmente é presidido pelo seu sobrinho Aurelio, que juntamente com o seu pai se uniu para recuperar os estúdios fundados anos antes por Dino e abandonados quando este partiu rumo aos EUA.
A morte de De Laurentiis fecha um ciclo sobre uma idade fulcral da maturidade do cinema italiano que depois acabou por desembocar no cinema de autor de Fellini e companhia, alejado já do espirito critico das suas primeiras obras. O seu trabalho como productor lançou os talentos de Scolla, Risi, Monicelli e companhia que durante anos foram o pulso do cinema que se produzia na "bota". Um homem apaixonado pelo cinema e pela vida que sempre carregou às costas o preço de ter nascido numa encruzilhada entre a vida e a morte, a beleza extremo e a dor profunda. Porque também isso é o cinema. Pelo menos, o de Dino.
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