É provavelmente uma das certezas mais concretas da última década. Não que nos anos anteriores tenhamos vivido um verdadeiro suspense (desde as vitórias de Crash e Million Dollar Baby que os Óscares de Melhor Filme voltaram a ser bastante previsíveis), mas este ano o triunfo de Slumdog Millionaire está garantido.
O filme venceu todos – sem excepção – os grandes percursores necessários para afirmar, com certeza quase absoluta, que será o filme do Ano. Para lá dos prémios da crítica, onde começou a levar-se finalmente a sério esta história de um underdog nos bairros de lata de Bombaim, o filme ganhou os Globos, os BAFTA, o elenco dos SAG, o WGA, o PGA e o DGA. Enfim, quase nada.
Não será necessariamente o filme do ano – no futuro provavelmente haverá títulos que deixem mais mossa – mas é o mais consensual, em particular dentro do sistema. E isso é mais do que meio caminho para o ouro. Slumdog Millionaire, a história de Jamal, um jovem que por amor decide concorrer ao programa Who Want´s to be a Millionaire local e, para espanto de todos, chega à última pergunta, nunca teve um verdadeiro rival. É por isso complicado falar em alternativas.
No entanto já aconteceram surpresas no passado e há dois filmes que não devem ser totalmente descartados.
Por um lado, o mais forte rival será certamente a grande surpresa na altura das nomeações. The Reader é uma aposta forte dos irmãos Weinstein. Conta com o capital de sensibilização humano, por ter sido produzido por dois grandes da indústria, falecidos este ano (Sidney Pollack e Anthonhy Mingella), é um filme sobre o Holocausto, que sempre cai bem à Academia e está dirigido pelo único cineasta que conta por filmes realizados o número de nomeações conseguidas (Billy Elliot, The Hours e agora The Reader), o britânico Stephen Daldry. À parte disso a performance de Kate Winslet tem a forte junto do grémio de actores que não terá o desconhecido elenco do filme de Danny Boyle. Certamente será o filme mais votado entre os restantes nomeados, mas será difícil que alcance em votos Slumdog.
O outro candidato a ter em linha de conta, especialmente pela onda mais liberal, é Milk. Um filme sobre os direitos cívicos dos homossexuais rodado em formato mainstream é uma grande tentação para uma indústria que ainda se envergonha da condição de muitos dos seus membros, mas que não perde oportunidade para lhe piscar, aqui e ali, o olho. No entanto, Brokeback Mountain foi um aviso à navegação e o filme poderá ter de se contentar com o Óscar de Melhor Argumento Original.
Quanto ao rei das nomeações, The Curious Case of Benjamin Button, apenas se pode dizer que ninguém teve a coragem de não o nomear mas também ninguém terá coragem de o premiar. Pelo menos nas categorias que contam. O filme que contou com 13 nomeações poderá passar de 13 a 0 Óscares facilmente, mas o provável é que vença, aqui e ali, em algumas categorias técnicas. Na categoria de Melhor Filme é um dos mais improváveis ganhadores já que, apesar de sua legião de apoio (suficiente para o nomear como nenhum outro filme) tem igualmente uma fortíssima legião de detractores.
Frost/Nixon, que num outro ano seria o típico filme de Hollywood dirigido por um dos seus artesões mais cotados, este ano passa totalmente despercebido e provavelmente sairá da cerimónia de mãos vazias. Um castigo demasiado pesado para um filme que tem o mérito de provar que há obras de teatro que também funcionam bem em cinema quando se encontra o ângulo certo.
E O ÓSCAR VAI PARA…
Slumdog Millionaire, sem dúvida alguma!
RIVAL
The Reader, conta com a máquina Weinstein e o apoio do sector mais clássico da Academia. Mas não será suficiente!
SURPRESA
Milk soa para muitos como o filme certo para a geração Obama – mais do que Slumdog Millionaire – mas Brokeback Mountain já provou que a Academia não é propriamente gay friendly.