1982 ficará para a eternidade como um dos anos mais espantosos da história do cinema. As estrelas conjugaram-se de forma a que os espectadores de então pudessem, contemplar, maravilhados, obra prima atrás de obra prima. 1982 foi o ano de Blade Runner, de Ghandi, de The Veredict, de Tootsie...e de ET.
O magnifico filme de Steven Spielberg confirmou o cineasta como o mago contemporâneo da fábrica de sonhos de Hollywood. Depois de inventar o conceito de blockbuster e de já se ter aventurado com seres de outro planeta, Spielberg traz com o seu ET uma dimensão humana inimaginável até então, num tratado de inocência e pureza onde não é de estranhar que sejam as crianças - e não os corruptos adultos - quem consegue manter contacto com aquela estranha criatura de andar chapliniano.
Com algumas das cenas mais memoráveis da década, ET marcou um antes e depois do cinema comercial, recuperou o género familiar e consagrou Spielberg como um dos maiores. Os prémios vieram na década seguinte, mas ainda hoje a sua obra máxima continua a ser esta inesquecível aventura...
O cinema português não é propriamente um exemplo no panorama europeu - para não falar internacional - de grandeza. Sempre faltou a Portugal no cinema o mesmo que na sociedade, ou seja, empreendedores, autores com imaginação e capacidade de mobilização. Um cinema de autor para poucos - muito poucos - e um falso cinema comercial são hoje em dia um pobre espelho da nossa realidade.
Mas nem sempre foi assim. Impulsionado pelo governo do então Estado Novo, a comédia portuguesa viveu entre os anos 30 e 50 um periodo dourado onde não é de estranhar que fosse, uma das melhores escolas do género à época, bem capaz de rivalizar com a própria comédia francesa ou norte-americana, as rainhas de então.
De todos os filmes concebidos então nenhum atingiu a genialidade pura como O Leão da Estrela. Um notável exercicio de comédia, mas também de critica encoberta de um país de brandos costumes, aparências ilusas e muita malandrice. António Silva, o maestro da representação nacional de então, liderava uma orquestra inesquecivel onde havia tempo para o casal romântico de serviço, para a aparição do emergente Artur Agostinho, ou para uma série de inesquecíveis cenários que iam desde o Jardim da Estrela em Lisboa ao Estádio do Lima no Porto.
Uma inesquecível obra-prima portuguesa que vale sempre a pena recordar.
Durante os anos 60 viveram-se autenticas revoluções cinematográficas pelos quatro cantos do Mundo. Filhos da Nouvelle Vague e da reestruturação do cinema norte-americano, foram nascendo diferentes olhares que começaram a deixar o seu impacto fora das suas fronteiras.
No imenso Brasil, país onde as telenovelas sempre se sobreposeram á 7 Arte, despontou um pequeno grande e irreverente génio de nome Glauber Rocha. O cineasta arrancou o cinema das grandes urbes e alastrou-o para a imensa provincia, do nordeste ás pradarias do sul. Tristemente desaparecido quando ainda não tinha cumprido 43 anos - como François Truffaut - não deixou de ser o simbolo de um novo ar fresco no cinema mundial.
Uma das suas obras máximas que fechou a década de 60 - o periodo aureo do cinema brasileiro - O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (também popularmente conhecido como António das Mortes), espelha bem a aridez e poder de sedução do Cinema Novo brasileiro, onde o próprio Brasil é o verdadeiro protagonista. Vencedora da Palma de Ouro de Cannes é uma pérola cinematográfica inesquecível.
O cinema musical sempre foi um dos ex-libris de Hollywood e um dos primeiros géneros cinematográficos de sucesso. Desde os anos 30 até hoje que os musicais são um simbolo de Hollywood e alguns dos seus momentos mais marcantes fazem parte da idade de ouro da 7 Arte.
Entre o género musical, inesquecível é a carreira de Fred Astaire e a sua parceria com Ginger Rogers. O bailarino, antigo profissional da Broadway, foi uma das maiores estrelas da década de 30 e 40 e um dos nomes maiores do género. As suas coreografias apaixonantes com a jovem Ginger Rogers (que mais tarde venceria o Óscar de Melhor Actriz em Kitty Foyle) faziam a delicia de milhões de espectadores que na década de 30 procuravam no cinema o escape perfeito para os dramas do dia a dia.
Entre as várias aventuras em conjunto, não houve filme mais apaixonante do que Top Hat. E dentro deste magnifico musical de 1935 dirigido por Mark Sandrich, a sequência mais bela e apaixonante é sem dúvida a da dança de Astaire e Rogers ao som de Cheek to Cheek. Memorável...
A II Guerra Mundial deixou uma profunda ferida da qual a Europa demorou a recuperar e precisou da preciosa ajuda do cinema para expiar os seus mais profundos pecados. Em Itália, país que alinhou pelo Eixo apesar da forte oposição interna, nasceu no seio de uma série de autores uma visão critica da realidade italiana dos 40. Alguns dos cineastas eram herdeiros da escola do cinema de telefones brancos, a imagem de marca dos filmes patrocinados pelo Duce. Mas estavam dispostos a resistir através das suas obras contra o ideal fascista que dominava o país.
O maior de todos estes nomes ilustres foi sem dúvida Roberto Rossellini.
O seu Roma, Citta Aperta não abriu o Neo-Realismo (é Vittorio de Sicca quem tem direito ao primeiro grande sucesso desta nova corrente estética cinematográfica) mas foi o mais marcante. A história da resistência contra o exército ocupador alemão contada na perspectiva dos mais pobres, onde não faltava a figura do padre ao lado dos herois de esquerda, deixou boquiabertos os cinéfilos de então, incapazes de captar em toda a profundidade o alcance estético e narrativo da obra de Rossellini. O autor tornou-se um esteta a cada filme que realizou e no final da carreira, como sucedeu com Visconti, De Sicca ou Fellini, afastou-se por completo do ideal inicial.
Mas a sua obra original tornou-o num dos cineasta europeus que tocou a imortalidade como se pode ver por esta mitica cena desse filme inesquecivel.
Para muitos simplesmente a quintissência do western.
Em 1959 Howard Hawks assinou uma das maiores obras-primas da história do cinema. Um filme marcante do primeiro ao último segundo capaz de conter uma tragédia de tons shakesperianos com o espirito inovador do oeste selvagem.
Contando com o mito dos westerns - John Wayne num dos seus mais emblemáticos desempenhos - e ainda com o surpreendente Dean Martin, o filme segue a história de quatro homens da lei encarregues de guardar um preso especial: o irmão do fora da lei número um da zona que fará de tudo para o resgatar. Fundamental também a presença do decano dos actores secundários britânicos, o mitico Walter Brennan.
Rio Bravo foi um sucesso de público e critica, particularmente na Europa onde foi elevado ás alturas de classico máximo pela Nouvelle Vague. Um filme que resiste ao passar dos anos e que conta com sequências memoráveis como a que podem ver aqui...
Para muitos o melhor filme de sempre.
Não é perfeito tecnicamente. Não tem um guião apurado ao minimo detalhe. E não é um filme de autor como a critica sempre gostou de valorizar. Na sua época não foi um grande sucesso, mas foi ressuscitado pela televisão que fez dele um habitué do Natal de quase todos os países do mundo ocidental.
Um génio atrás da camara. Um génio á frente da camara. Um elenco de luxo. Uma história mágica. Um filme único. A vida pode ser, realmente, "wonderful".
Confessou Billy Wilder ao gravador indiscreto de Cameron Crowe, numa série de entrevistas que logo resultaram num livro imperdível, que a frase final de Some Like it Hot não era aquilo que ele e o seu parceiro, I.A.L. Diamond, estavam á procura, quando desenharam o primeiro esboço do guião.
Wilder afirmou que, durante toda a gravação em San Diego, ele e Diamond procuraram uma alternativa mas por muito que procurassem não a encontravam. "Because it was perfect", confessaria orgulhoso, sabendo que á primeira, e sem o perceber, tinha descifrado o mais fabuloso final da história do cinema norte-americano.
"Nobody´s Perfect" é mais que uma deixa. Na boca de Joe E. Brown (um daquele inesqueciveis e desconhecidos secundários do cinema norte-americano), essa frase deliciosamente fatalista, é a sumula do cinema de humor ácido e irónico de Wilder. O grande mestre assinava aqui, mais do que em Marilyn ou do que Curtis e Lemmon vestidos de mulheres, o momento mais alto de toda a sua carreira. Se algum cineasta alguma vez esteve remotamente perto da perfeição, esse foi Billy Wilder.
That´s the Movies é mais uma rúbrica inaugurada no Cinema onde iremos repassar os momentos mais marcantes da história do cinema. A não perder...
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